A abolição da escravidão e a luta por igualdade - Jornal Fato
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A abolição da escravidão e a luta por igualdade


Às vésperas de uma data que estudamos na escola como marcante para a história dos negros no Brasil, 13 de maio, cabe uma reflexão sobre a relevância desse fato histórico na sociedade atual.

É bom lembrar que a data citada é a da abolição da escravidão no Brasil, que se deu de forma gradual. Lei Eusébio de Queiróz, de 1850, que proibia o tráfico intercontinental de escravos para o Brasil, a Lei do Ventre Livre, em 1871, considerava livres os filhos das escravas, a Lei dos Sexagenários, em 1885, declarava livres aqueles com mais de 60 anos. E em 1888, a princesa Isabel assinou a Lei nº 3353, a Lei Áurea, "libertando" todos os escravos.

Diante da abolição, a organização do trabalho mudou, mas ninguém se preocupou com os ex-escravos. Teria trabalho para eles? Moradia? Os negros foram arrancados de sua terra, África, separados de suas famílias, escravizados por mais de 300 anos e "libertados". O trabalho que era deles passou a ser dos imigrantes, afinal, a elite da época jamais aceitaria pagar pelos serviços de quem, até então, era seu escravo.

Muitos imigrantes europeus, como eram livres puderam, como fruto do trabalho, adquirir suas terras.

Aos negros, depois de mais de 300 anos sem educação, sem direito de expressar a sua cultura e a sua fé foi dada a "liberdade", sem nenhuma política de inclusão. Eles ocuparam primeiro os guetos, cortiços e, depois os morros, onde muitos estão até os dias atuais e, a passos lentos, estão conquistando seus espaços na sociedade. Digo a passos lentos porque ainda é possível sentir a presença forte da discriminação racial.

Universitário sendo chamado de escravo, festa de 15 anos com negros fantasiados de escravos, crianças negras sendo agredidas na internet, nas ruas, nas escolas...Esses são alguns dos acontecimentos atuais que comprovam essa discriminação, além dos dados reais, já que mais de 60% da população carcerária é negra. Isso, inegavelmente, é fruto dessa história.

Ainda assim, na TV aberta é possível ver a propaganda do governo sobre a Base Nacional Curricular, afirmando que se a "base curricular é a mesma as oportunidades também são". Desculpa, mas, ainda que um documento garantisse realmente que todos teriam essa base (pois é sabido que não garante), só a escola não dá conta de mudar essa realidade. As oportunidades não são as mesmas. O acesso à informação, às diferentes culturas, é tudo injusto. Falo com propriedade do assunto por trabalhar na educação pública e na particular e lutar, com afinco, todos os dias, para diminuir esse abismo social.

Há pouco tempo visitei uma comunidade carente onde trabalhei e fiquei sabendo que muitos dos meus melhores alunos estão presos. Falo de crianças que foram alfabetizadas ainda na educação infantil, tamanha a facilidade para aprender; que se destacavam na escola pelo conjunto de habilidades e, mesmo assim, o tráfico de drogas foi mais forte. Ainda me pergunto como se perderam, o que poderia ser feito por eles que não foi feito e as respostas são muitas. Crianças que não tinham referência de sucesso através do estudo na família, e casos raros na comunidade, famílias em que a prioridade nunca pôde ser a educação, falta de programas sociais que dessem essa esperança para eles...E o tráfico rondando, espreitando e conquistando espaço.

Muitas políticas sociais já foram implementadas para melhorar as condições dos negros no Brasil, mas até essas políticas são questionadas. O sistema de cotas, que visa reparar essa discriminação e possibilitar que mais negros consigam chegar às universidades, mesmo sem ter as mesmas oportunidades que outras crianças, é um deles. Como é difícil para as pessoas compreenderem que cotas não têm a ver com capacidade, mas com oportunidade. Se o negro, o índio, o aluno de escola pública fosse realmente respeitado não seria necessário nenhum tipo de cota.

Nesse 13 de maio, desejo a toda a sociedaderesistência a qualquer tipo de preconceito e escravidão e consciência de que a luta é de todos e não só da população negra. Finalizo com o líder Nelson Mandela, afinal "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."

               

Adriana Pereira Souza

Professora, especialista em Psicopedagogia e

Atendimento Educacional Especializado

 

 

               

 


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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