A greve pode pôr o país nos trilhos - Jornal Fato
Artigos

A greve pode pôr o país nos trilhos

O Brasil paga, hoje, o preço de ter se desfeito de suas ferrovias e concentrado nas rodovias o sistema de transporte do país


O Brasil paga, hoje, o preço de ter se desfeito de suas ferrovias e concentrado nas rodovias o sistema de transporte do país. Em entrevistas, o presidente da Abcam mostrou o tamanho do problema estrutural. "Quem carrega este país nas costas está sofrendo. Nós estamos em um país rodoviarista. Não é um país que tem trem, navio. É rodoviarista. O caminhoneiro está vendendo o almoço para comprar a janta".

Não se pretende aqui fazer juízo de valor da paralisação dos caminhoneiros, que goza de forte apoio popular, mas de um erro - hoje ainda mais evidente - de não diversificar o modal de transporte do país. É imperativo ampliar a malha ferroviária brasileira e não a dizimar, como já foi feito em Cachoeiro e agora se pretende na turística Vargem Alta.

Como explica o especialista em ferrovias, Paulo Thiengo: "houve tempo, nos anos 60, em que os sindicatos de ferroviários eram fortíssimos. A fama do Baptistinha vem desta época. Para "cortar o mal pela raiz", o governo militar resolveu acabar com as ferrovias. Imaginava que o problema não se repetiria com os caminhoneiros".

Apenas ontem o governo federal parece ter despertado para isso. O novo secretário-geral da Presidência, Ronaldo Fonseca afirmou que o Brasil precisa acabar com a dependência do transporte rodoviário. "O segundo semestre será o momento das ferrovias no Brasil".

São planejados três leilões de ferrovias ainda este ano. Ele acrescentou que a Secretária-geral da Presidência já realiza estudos há dois anos, mas não explicou o que poderá sair do papel nos seis meses que restam de governo.

No Espírito Santo, que tem boa parte de seu desenvolvimento ligada ao transporte ferroviário, existe grande esforço político para que a EF -118 entre estado capixaba e Rio de Janeiro, e seus respectivos modais portuários, saia do papel.

O governador Paulo Hartung esteve em mais de uma oportunidade com o presidente Michel Temer e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, tentando colocar essa ideia como projeto prioritário. Ela ainda não está no leilão anunciado pelo ministro.

Quem sabe a greve dos caminhoneiros, além de reduzir em 46 centavos o valor do óleo diesel, também ponha a situação do transporte nos trilhos e ajude, por linhas tortas, a destravar este empreendimento estratégico para os capixabas e, agora, vital para o Brasil.

 

DESTAQUE. Domingo, o ex-prefeito de Cachoeiro, Carlos Casteglione, participou do movimento nacional de lançamento da candidatura a presidência do ex-presidente Lula. Apesar de preso há quase dois meses em Curitiba, a estrela maior do PT lidera as pesquisas eleitorais. Se terá condições legais para se candidatar, é outra história.

 

Sobe

Transporte

A viação Flecha branca restabeleceu na totalidade o transporte coletivo, mais necessário do que nunca nestes dias de escassez de combustíveis. Sem tantos carros nas ruas, é natural que a demanda aumente e restringir o transporte seria penalizar ainda mais a população.

 

Desce

Furto de gasolina

Nos momentos mais dramáticos é que se vê o quão baixo pode chegar a humanidade. Depois dos arrastões, durante a greve da PM, dos aumentos abusivos de preços na atual manifestação dos caminhoneiros, já tem bandidos roubando combustível do tanque alheio.

 

Mas, hein?!

Não seria corrupção aumentar abusivamente o preço dos combustíveis e alimentos se aproveitando do desabastecimento e desespero da população? O será que corruptos são só os políticos?

 

Vias de FATO

Filas monstruosas se formam assim que os motoristas descobrem que postos receberam ou estão prestes a receber gasolina ou etanol, em Cachoeiro. 

Apesar de dois acordos celebrados e divulgados, muitos caminhoneiros não parecem dispostos a arredar pé de suas posições. Reflexo da fragilidade e descrédito do governo central. 

Em Cachoeiro, apesar das dificuldades originadas com a paralisação dos caminhoneiros, os serviços básicos estão mantidos. 

Aos poucos, os cachoeirenses vão percebendo que é possível sobreviver sem veículos particulares.

 Pelo que se ouve, é bem provável que o maior percentual de apoio popular aos caminhoneiros manifestantes esteja em Vargem Alta.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

Comentários