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Ainda sobre o feminicídio

Doze anos após a aprovação da Lei Maria da Penha, que certamente é um marco importante no combate à violência contra a mulher, o número de casos de feminicídio no Brasil é assustador


Doze anos após a aprovação da Lei Maria da Penha, que certamente é um marco importante no combate à violência contra a mulher, o número de casos de feminicídio no Brasil é assustador. Não há um dia sequer em que uma morte, a maioria com requintes de crueldade, não seja revelada.

Uma pesquisa recente aponta os motivos para os crimes contra as mulheres. A autora do estudo é a professora Lourdes Bandeira, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), que estudou mais de 1,7 mil casos de mortes de mulheres no país nos últimos três anos.

Ela analisa que em 70% dos casos o assassinato é tratado como crime de paixão ou de honra, e que as motivações mais comuns são o inconformismo com a separação, suspeita de adultério ou dificuldade de aceitar que a ex-companheira possa retomar sua vida afetiva.

A pesquisadora diz que a rejeição soa como um ataque à virilidade, já que falharam em manter a mulher numa sociedade sexista e patriarcal, em que ela ainda é vista como parte do pertencimento do homem.  "É notada uma crueldade nos crimes. Espancamentos, diversas facadas e tiros. É o pensamento de ou ela me pertence, ou não será mais de ninguém", ratifica Lourdes Bandeira.

A antropóloga Lia Zanotta, também da Universidade de Brasília, Especialista em violência doméstica, destaca que a mulher é uma válvula de escape e que sofre todas as consequências pelas crises financeiras e momentos difíceis, quando o homem bebe e bate nela. "Isso vem de uma idealização lá do Brasil Colônia, em que, ao casar, a mulher passava a ser um ser totalmente submisso, obediente ao marido". Ou seja, a mulher é o saco de pancadas. E isto ainda é natural para uma parcela da população.

Mas há esperança. Estudiosos dizem que enquanto as crianças não aprenderem que a igualdade é real, nada muda. E agora digo eu. Enquanto os pais, mas principalmente as mães (sim, temos mães com cultura machista, já que são frutos dela) não ensinarem aos meninos e meninas que todos devem ter as mesmas obrigações em casa, e que os afazeres domésticos não são coisa de mulher, a sociedade vai continuar encarando uma rotina de violência, preconceito e discriminação, com a mulher trabalhando com a mesma competência e ganhando menos que os homens. E sendo espancada.

A educação igual para filhos e filhas com certeza dará resultados, mesmo que a médio e longo prazos. Mas é preciso começar de algum lugar. O que não dá é para aceitar passivamente a morte de tantas mulheres, que muitas vezes são assassinadas na frente dos filhos, deixando sequelas irreversíveis. O que estamos esperando para promover a cultura da igualdade de direitos e oportunidades para homens e mulheres de todas as etnias e credos religiosos já na primeira infância? Acreditem, isso pode mudar o mundo.


Anete Lacerda Jornalista

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