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Demais aleatoridades presentes

Ego: Remédio sempre a uma gota de se tornar veneno


- Foto Reprodução Web

O amigo mais ambíguo de qualquer vivente pelaí - do crápula ao abnegado, do ingênuo ao velhaco, do direitosco ao esquerdilho, do cético ao proselitista - é o ego. Mas este não é de todo desconfiável, não. Remédio sempre a uma gota de se tornar veneno, é um ser de quem se pode, entretanto, tirar algum proveito. Não desprezá-lo, tampouco adulá-lo, é o conselho que eu dou às crianças (embora ninguém o tenha pedido a este guru da leviandade). Inconclusivo, porém, o ego é um cão que, apesar de amansado, ainda pode surpreender.

 

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- Bela maçã do rosto triste,

conte-me o que ocorreu?

- Um ardor que me persiste,

e ninguém me socorreu.

- Em qual parte sente ardor,

e como posso te ajudar?

- Em todo passo que eu dou;

cure com beijo meu andar.

 

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Em menos de meia-dúzia de segundos, três conjugações não-verbais: invadiu a janela do quarto, atravessou o corredor e, com a mesma sutileza de sua chegada, saiu pela janela da sala. Foi um passarinho, de espécie indecifrável, que adveio de um céu de domingo em tom de gris. Lembrei-me de uma súplica que entreguei aos ventos: que deixassem um passarinho matinal adentrar nosso cazuá. Minhas lágrimas de agradecimento perderam-se na chuva fina que, certamente abençoada por nega velha Izabel, fez-se em seguida.

 

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A poesia
é maior do que o poeta.
Boca vazia...

...o silêncio lhe completa.

O meu chapéu

me protege contra o sol.

Não vivo ao léu,

eu sou duma moça só.

 

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Você saberá do passarinho de domingo e, mesmo que se admire com tamanho acontecido - a infinitude do Universo coube, ali, nas asinhas da ave -, haverá de me redizer, com uma agridoçura perceptível tão somente aos meus sentidos (sim, eu nasci para saboreá-la), que o mundo, para mim, é um "conto de fadas". Concordarei contigo. Afinal, eu sou o sapo que, tão logo teus lábios tocaram os meus, fui transformado em príncipe. Ou melhor: em plebeu. Mais do que isso: em "barão da ralé". 

 

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Laroyêi de crer

em que tua boca come;

que nos leve a crescer

o que tua fome consome.


Felipe Bezerra Jornalista

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