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Quintana será para mim eternamente sublime e simples


"Penso, sempre mais, que se as coisas são inatingíveis, não há motivos para não querê-las". E a conclusão não é apenas minha. Tomo emprestadas, mais uma vez, as doces e firmes palavras de um dos meus poetas favoritos, Mário Quintana.

Quintana será para mim eternamente sublime e simples. Já disse isso, mas não há como inovar quanto preciso de referências de autores que tocam a alma e o coração e alimentam esperanças. São tão sutis que passariam despercebidos, não fossem tão maravilhosos.

Certamente nunca se declararam intelectuais, simplesmente faziam fluir verso e prosa com uma naturalidade apaixonante. Não se colocavam em pedestais, embora tenham sido elevados à categoria de astros e estrelas da literatura pelo talento natural e habilidade com as palavras, que às vezes nos são tão caras, mas inacessíveis.

Ainda me lembro das entrevistas de Ariano Suassuna, sempre bem humorado, das palavras do próprio Quintana e de Carlos Drummond de Andrade, do ar sisudo do eterno "Sabiá da Crônica" e das palavras que me pareciam angustiadas de Clarice Lispector.

As entrevistas por vezes não revelavam toda a grandiosidade dos autores. Imagino que seja mais fácil escrever solitariamente do que desnudar-se frente a desconhecidos, mesmo que fãs e apaixonados pelos textos inigualáveis. Suassuna me parecia a exceção, sempre muito à vontade. Talvez esteja enganada e não seria a primeira vez, demasiadamente humana que sou.

E são esses autores que resgatam, quando as esperanças parecem submersas em águas profundas e sufocantes, de forma desesperadora. Nesta hora, as palavras trazem fôlego e renovam forças. "Que tristes caminhos, se não fora a presença distante das estrelas".

Então, naveguemos sobre a luz das estrelas. Para lugares certos ou incertos, mas com a convicção de que as coisas podem ser diferentes graças à presença das constelações que nos acompanham desde sempre. Precisamos apenas percebê-las.

Se queremos um porto seguro, faz-se necessário descobrir novas rotas. Ter ousadia para adentrar mares nunca dantes navegados. E se estiver muito difícil, trocar a embarcação, com determinação e ousadia.

Talvez seja hora de aprender a voar, mesmo quando o céu não for de brigadeiro. Mesmo quando as densas nuvens substituírem o céu azul e o dia ensolarado. Importa prosseguir, escrevendo novas histórias e pintando novos autorretratos, com todas as marcas que o tempo se encarregou de gravar por todo o corpo.

"No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore?às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança?" É possível desconsiderar aquela pessoa que não se reconhece no espelho? Recomeçar, mesmo sem saber por onde?

Quando tudo parece vazio, e a luz no fim do túnel não aparece, recorro mais uma vez ao poeta: "ou coisas que não existem, mas que um dia existirão? e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará"?

Respondo firmemente: Esperança, muita esperança. De novos tempos. De alegrias renovadas. De paz abundante. E sabe por quê? Respondo com as palavras da amada Cora Coralina: "É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça."


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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