Feminicídio, por quê? - Jornal Fato
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Feminicídio, por quê?

Foram 4.473 homicídios dolosos em 2017 contra a mulher, sendo que, desses, 946 mulheres foram vítimas de feminicídio, o que equivale a um aumento de 6,5% em relação a 2016


"[...] Como aceitar o feminicídio e como entender que mulheres, como eu e como você, ou como sua mãe, irmã, amiga,..., por azar, pensaram conhecer um príncipe, mas, na contramão dos contos de fada que lhe foram ensinados na infância, o "homem perfeito" se transformou, não em um sapo ou em uma fera, mas no próprio mal encarnado. "[...]"

Foram 4.473 homicídios dolosos em 2017 contra a mulher, sendo que, desses, 946 mulheres foram vítimas de feminicídio, o que equivale a um aumento de 6,5% em relação a 2016. Isso significa que uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. O Espírito Santo, por sua vez, registrou a maior taxa de feminicídios do Sudeste e a terceira maior do Brasil em 2017. A taxa no estado foi de 2 mortes a cada 100 mil mulheres, quatro vezes maior que a taxa do país, de 0,5.

Ruthileia, Gabriela, Eliane, Milena, Ana Carolina, Claudiana, Sabrina, [...] e quantas mais terão as vidas ceifadas?

Quantas famílias mais chorarão a dor de enterrar suas filhas? A sociedade está cansada de tantas vítimas de relacionamentos doentios. As famílias querem ter o direito de ver suas filhas crescerem, envelhecerem e morrerem quando de fato a hora chegar.

Ninguém é de ninguém, mas, para algumas pessoas, uma vez junto, aquela que deveria ser companheira passa ao status de coisa e se transforma em simples propriedade.

Assim, a mulher perde o direito de escolha e perde a liberdade de trilhar seus próprios caminhos. Sentindo-se dono daquela que deveria ser parceira, amiga e amante, passa a limitar os direitos da companheira. Passa a impor sua autoridade e, como um passarinho, que vive enjaulado, na primeira oportunidade, a mulher deseja voar. E, quando surge a coragem, ou o medo maior, toma a decisão de pôr fim à relação.

Apesar de serem donas de suas vidas e de terem o livre arbítrio, até por DEUS respeitado, quando fazem valer seus direitos, muitas mulheres, vítimas da burrice, do machismo e da brutalidade de seu ex, estúpidos pelo uso da força física, são feridas e/ou assassinadas.

A este crime de ódio contra a mulher dá-se o nome de feminicídio, previsto no artigo 121, § 2º, incisos VI e seguintes do Código Penal Brasileiro. Mas, sob o olhar da dor causada, de que vale a prisão se a vida perdida jamais será restaurada? É lamentável, é dolorido que, em um país livre como o Brasil, mulheres se tornem prisioneiras da má-sorte de conhecerem a pessoa errada que, por certo, simulou, nos primeiros contatos, sua real essência.

É inaceitável que a cada duas horas uma mulher aumente o índice de violência contra esse sexo no Brasil. Ora, todos temos uma mãe, uma irmã, uma amiga, uma filha ou uma sobrinha que amamos; todos, em um ou outro momento, tivemos/temos o amor voltando para o ser feminino. Então por que matar? Por que violentar?

Embora aja um ditado - ou sei lá o quê - nesse sentido, na verdade:  "ninguém nasceu de chocadeira", mas de uma MULHER. Então por quê? Qual a razão? Como aceitar o feminicídio e como entender que mulheres, como eu e como você, ou como sua mãe, irmã, amiga,..., por azar, pensaram conhecer um príncipe, mas, na contramão dos contos de fada que lhe foram ensinados na infância, o "homem perfeito" se transformou, não em um sapo ou em uma fera, mas no próprio mal encarnado.

Até quando meu Deus? Até quando Brasil? Mulher não é chocadeira ou objeto, mas é GENTE de verdade; é filha de Deus e é filha; irmã; amiga; mãe; esposa; parceira de alguém. Mulher é digna de respeito, de liberdade e de ter uma vida plena.

Pelo amor de Deus, CHEGA de sangue de mulheres jorrando nos noticiários. BASTA!!!

 

 

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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