Filinho - Jornal Fato
Artigos

Filinho

Não sei de onde vem o apelido, mas é assim que o chamam


Não sei de onde vem o apelido, mas é assim que o chamam. Algumas vezes, também, dizem: Alemão. Porém, parece preferir Filinho, pois esse é o nome da sua barraca, no final da Resplendor, uma rua na Praia de Itapoã, em Vila Velha. Município capixaba conhecido como Canela Verde, onde nosso colonizador, Vasco Fernandes Coutinho, desembarcou no início do séc. XVI. A barraca encontra-se junto à areia da Praia, a vista é do Morro do Moreno, que se observa por todo o Calçadão. Itapoã é uma das praias urbana mais aconchegante, e bonita, do nosso país. Sol praticamente o ano todo e com vento ameno. Acumula-se pouca areia em asfalto em frente, fruto do trabalho de recuperação da restinga. Prova que, os cuidados com a natureza trazem retorno paisagístico e beleza. Falo do Filinho porque no último sábado tive uma surpresa. Ao iniciar minha caminhada não visualizei a barraca, o local onde sempre se encontrava estava vazio. Surpreso, pois há anos, durante fim de semana, tenho garantia da presença do Filinho. Logo fiquei sabendo, para meu alívio, e alegria, naquele sábado, era casamento da filha dele e, assim, em 22 anos, pela primeira vez, deixava de trabalhar. Os peladeiros ao lado corriam no Campo de Futebol de Areia mais conhecido das praias de Itaparica, Itapoã e da Costa. Corriam atrás da bola e xingavam. Mais xingavam que jogavam. Não pareciam se preocupar, não parecia haver constrangimentos. Aparentavam alívio após cada palavrão, seguidos de erros de passes de bola ou chutes a gol.

Observava os peladeiros e pensei na pelada do Clube dos Médicos cachoeirense, tradição em mais de 30 anos. Pelada é coisa séria. Tão séria que a Constituição Brasileira deveria ser refeita com os ensinamentos dos peladeiros. Peladeiro respeita tradição, leis e regras. Mesmo sem serem escritas. As regras e leis são seguidas a risca. Regras são transmitidas do peladeiro mais antigo ao mais novo. Vale o combinado. Palavra é palavra. Sem necessidade de registro escrito. É verdade que muitas vezes o "grito" também conta. Mas, peladeiro reconhece erros, sabe quando se excede, tem autopunição. Não precisa que ninguém fale que errou. Não existem ressentimentos em campo de pelada, as desavenças ficam nas quatro linhas, acabou a pelada, termina a discussão. Fica tudo para uma próxima semana, no mesmo grupo. O Brasil precisa de uma revisão em sua Constituição - reforma política e fiscal. Principalmente a política. Em vez de parlamentares constituintes, melhor seria convocar os peladeiros para realizarem as reformas necessárias.

Claro que em pelada e seleção brasileira ocorrem casos que não entendemos bem. Dia desses, em uma de nossas peladas da quarta-feira, no Clube dos Médicos, Carlos Scaramussa reclamava que o time dele perdia porque só tinha velhos, citava: Ele, Damião, Ervati... A pelada tinha começado com menos um para cada lado. Chegaram dois peladeiros retardatários: Um com menos de 30 e outro com mais de 60 anos. Scaramussa escolheu para o time dele o de... Mais de 60 anos. Perdia até então de diferença de um gol, no final perdeu de mais de seis gols de diferença. Ninguém entendeu a escolha. O Tite, técnico da seleção, no final do jogo em que a nossa seleção foi eliminada da Copa do Mundo, parecia o Scaramussa justificando as escolhas.

 

Sergio Damião Santana Moraes

Visite meu Blog: blogazulix.blogspot.com.br

 

 


Sergio Damião Médico e cronista

Comentários