Mas afinal, por que odiamos nossos corpos? - Jornal Fato
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Mas afinal, por que odiamos nossos corpos?

Mulheres, meninas, garotas, amem-se apesar dos pesares, porque cada uma tem seu pesar e só sabe o tamanho do seu quem carrega


- Foto Reprodução Web

A cena se repete com uma frequência maior do que desejaríamos, se parássemos para pensar no assunto. Entramos no elevador bem iluminado e damos de cara com um espelho gigante. Agora para um pouquinho e responde: o que você vê primeiro? Sinceramente. Um ponto fraco ou um ponto forte? Se você me diz que reparou primeiro um ponto forte antes de notar que a raiz do cabelo está precisada de retoque de tinta ou chapinha, que precisa fazer o buço, a sobrancelha ou os dois, que esqueceu o brinco, que as olheiras estão muito visíveis ou a roupa amarrotada, vocês estão de parabéns.

Óbvio que quando eu me refiro ao ódio ao corpo eu não falo de nos privar de todas as técnicas, procedimentos, exercícios e intervenções que melhoram a autoestima. Eu falo da escravidão, da dependência do olhar do outro, das convenções impostas por uma sociedade que, ainda hoje, massacra e julga mulheres por seus corpos e comportamentos.

E onde está o equilíbrio? Na felicidade de sentir-se bem com você mesma. De olhar-se no espelho e perceber, antes das marcas do tempo, como seu sorriso é bonito, com seu cabelo acordou de bom humor e como, mesmo sem maquiagem, você continua linda. Vamos aproveitar o tirar máscaras do pós pandemia e entender que não há problema em nos mostrarmos.

Para aqueles que acreditam em redes sociais e suas vidas perfeitas, sempre alguém errou a mão no botox, para menos ou para mais. Que passa muito tempo ou tempo nenhum na academia, que está abaixo ou acima do peso, que o cabelo, o peito, a bunda, a barriga... enfim. Sempre haverá o julgamento, porque o padrão virou corpos que não existem. E pessoas frustradas e infelizes por não conseguirem o patamar das celebridades, que também estão frustradas e infelizes por passarem tanto tempo forçando, na internet, a vida perfeita. A vida real tá difícil para todo mundo. A comparação mata gente todo dia. Do sentido mais figurado ao mais literal.

Mulheres, meninas, garotas, amem-se apesar dos pesares, porque cada uma tem seu pesar e só sabe o tamanho do seu quem carrega. Sua dor não é maior que a do outro, assim como nada em você é menor. Que sejamos capazes de olhar no espelho e dizer um grandissíssimo "UAU!".  Se hoje as olheiras estão proeminentes, que tal perceber o quanto seu olhar brilha?

O meu desejo é que sejamos livres e felizes, jamais escravas. Que nos cuidemos por prazer, saúde e bem estar, nunca pelas amarras da opinião de uma sociedade tão doente e contaminada. E que nunca nos esqueçamos que o tempo passa para todo mundo, que isso pode ser poético, e há beleza em todas as fases. A gente só precisa entender a não sofrer tanto pelo que ficou para trás.

Agora corre na frente do espelho com um olhar mais treinado e me conta se não é emocionante o tal do amor próprio?


Paula Garruth Colunista

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