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Parto Adequado

Eu sempre vi o parto como algo sagrado. E sempre preferi o parto natural...


"O melhor tipo de parto é aquele que conduz a mãe com segurança para o momento que pode ser uma das coisas mais mágicas e maravilhosas do mundo." Li recentemente esta manifestação de uma obstetra paulista. Ela complementava: "O nascimento de um filho é uma experiência fantástica. Resgata na mulher aquilo que ela tem de mais primitivo, no sentido de gestar, cuidar daquela gravidez. Eu sempre vi o parto como algo sagrado. E sempre preferi o parto natural." A leitura foi feita dias antes do nascimento do Bernardo, meu neto. No dia da cesárea do Bernardo, algo incomodava. Ele encontrava-se no final da 38º semana de vida. Apesar da boa hotelaria da Maternidade, e da aparente segurança do médico, algo permanecia incomodando. Cheguei cedo ao hospital, permaneci próximo ao centro cirúrgico, bem junto à janela (visor) que permitiria que assistisse o nascimento. Um momento mágico, uma visão encantadora. De repente, o visor se fecha. Logo sabemos: Uma leve cianose (baixa de oxigênio sanguíneo) acometera o Bernardo, algo do amadurecimento pulmonar que ainda não se completara. Dias depois uma leve icterícia (amarelão). As dúvidas sobre a cesariana mal indicada se acentuaram após esse episódio. A ansiedade do momento aumentou o questionamento de anos anteriores: Qual o parto mais seguro (Vaginal - natural ou Cirúrgico - cesariana?); Quantas semanas de gravidez são necessárias para o bebê está devidamente seguro para vir ao mundo?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil realiza mais da metade dos seus partos por cesariana. Na Europa, a taxa média de cesárea é de 25% e nos Estados Unidos é de 32,8%. A cirurgia é recomendada quando o parto natural pode levar a complicações que coloquem em risco a saúde da mãe ou do bebê. Isto é, quando existe uma indicação clinica ginecológica/obstétrica que impeça ou inviabilize o parto normal. Para a OMS a taxa adequada é de 15%. As razões para o crescimento, no Brasil, das cesarianas foram muitas: desde o incentivo de laqueadura pós-cesárea no SUS e conveniências das gestantes. Também, questões familiares como coincidências de dadas de aniversários e comodidades do obstetra com partos agendados e programados. Na verdade, não foram razões médicas. E, sim, acomodação das partes.

Por isso, o projeto Brasil: Parto Adequado. Identificar novos modelos de atenção ao parto e ao nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesáreas desnecessárias. A ideia não é ser contra a cesariana, mas sim contra a cesariana desnecessária. Mesmo porque a cesárea bem indicada diminui a mortalidade materna e sofrimento fetal. Porém, não pode ser uma escolha pelas comodidades. Claro que questões estruturais são importantes. Discutir as condições de trabalho dos obstetras; levar em conta a Judicialização da Saúde com um número crescente de processos médicos. Algo de risco para o profissional médico (as famílias entendem melhor as complicações do parto cesáreo, comparados aos dos partos normais). Nos meses após parto, a lide aumenta para as mulheres. São, pelo menos, seis meses exclusivos para o Aleitamento Materno. Meses de vantagens físicas e emocionais para crianças e mães. Vantagens que perduram por toda vida.

 

Sergio Damião Sant'Anna Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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