Respeito, cadê você? - Jornal Fato
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Respeito, cadê você?

Após inúmeros assaltos ao local, eis que os ladrões, além dos furtos, fizeram questão de deixar suas marcas e de espalhar pelo local suas necessidades fisiológicas


A última sexta-feira acordou como todas as outras: com gostinho de fim de semana, mas intensa de trabalho. Todavia, com um diferencial: ao chegar ao escritório deparei-me com um tumulto na recepção, que fica no 2º andar. Não era para ser diferente, pois, após inúmeros assaltos ao local, alguns dos quais reveladores da degradação humana eis que os ladrões, além dos furtos, fizeram questão de deixar suas marcas e de espalhar pelo local suas necessidades fisiológicas - mas isso já faz tempo! -, o ambiente teve que ser alterado com fim de conquistar maior segurança.

A experiência com esse tipo de desrespeito foi preparando o local que hoje tem câmera interna e externa com gravação 24 horas, alarme vinculado à empresa de segurança, grades nas janelas externas, inclusive nas claraboias, etc. Apesar disso, na madrugada da última sexta-feira um filho desregrado de Deus, teve o trabalho de serrar o trinco da chave tetra da porta que dá acesso ao prédio; subir as escadas, arrombar a janela do segundo andar; entrar no escritório e voltar correndo para casa ou sei lá para onde, pois o alarme disparou, ... Provavelmente, a certeza de que seria preso, fez com que retornasse de imediato para o local de onde não deveria ter saído. Se permanecesse no ambiente do crime, por certo, não escaparia do flagrante. E de flagrante esse pessoal entende.

O pior é que, pelas imagens do incidente, posteriormente visualizadas, foi confirmado que o larápio é casado (ou outro tipo de união) com uma mulher que, durante a semana, esteve por vezes no local violado e ficou horas no portão do prédio pedindo ajuda.

Esse contexto, experimentando por muitos cidadãos de Cachoeiro, alguns com agravantes, pois vem carregado de violência, nos evidencia que, em uma análise genérica dos fatos, a sociedade já não tem mais respeito à pessoa e, ainda menos, ao trabalho desta que lhe proporciona a aquisição de patrimônios, uns mais outros menos, mas todos conquistados com a renúncia do lazer. Afinal, a vida é feita de escolhas e, assim, quando se trabalha, por óbvio, deixa-se de experimentar momentos de descanso, de contato com a família, de ..., mas, em contrapartida, tem-se a chance de angariar mais dignidade e mais qualidade de vida por seus próprios méritos. Como dizem, toda moeda tem dois lados, o difícil é quando não se quer renunciar, mas se deseja o que o outro tem.

Situações como essa são cotidianas e, de tão comuns, nem são relatadas nos meios de comunicação que se atém a noticiar os casos mais graves, igualmente comuns para nossa tristeza. Contudo, não nos cabe a acomodação. Não nos é permitido o habituar-se com a violência, seja qual for a sua forma ou gravidade. Nesse sentido, na última semana, Marilene Depes, em seu texto, relatou o susto que experimentou com uma violência gratuita no trânsito, por sorte, com apenas prejuízos materiais. Todavia, quantos cidadãos cachoeirenses sofreram algum tipo de violência que jamais chegarão ao nosso conhecimento?

Tais ocorrências fazem com que, em minha mente, borbulhem indagações: Quanto tempo mais teremos que contar com a sorte para que a falta de respeito não nos cause danos físicos leves, graves ou mortais? Quanto tempo mais precisaremos olhar para todos os lados antes de entrar/sair de casa, do trabalho, das festas e dos encontros entre amigos e familiares? Até quando teremos sustos sempre que uma moto parar ao nosso lado ou que, acelerada, nos ultrapassar pela direita e, ainda assim, nos proferir ofensas através do seu piloto? Até quando acharemos sorte sofrer apenas prejuízos materiais? Quanto tempo mais ecoará em nossa mente e gritará em nossa alma, sem respostas, as perguntas: Violência para quê? Respeito cadê você?


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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