Um historiador em pedaços... - Jornal Fato
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Um historiador em pedaços...

Quando um museu é destruído, quando um livro é queimado, quando um filme é perdido, quantas vidas se esvaem nesse acontecimento?


Quando o conhecimento é destruído, com ele morrem também as diversas vidas que se dedicaram a produzi-lo. Artistas, cientistas, pesquisadores, pessoas com diversos níveis de conhecimento, estudo, função, mas com lugar importante na imensa cadeia de labor que liga uma ideia a um resultado que possa ser exposto ao público e nos trazer benefícios em nosso dia a dia.

Quando um museu é destruído, quando um livro é queimado, quando um filme é perdido, quantas vidas se esvaem nesse acontecimento? 

Como mensurar a tragédia que se abate sobre nós para além da contabilidade básica que lista itens e não sonhos, que relaciona catálogos e não esforço, frustração e superação?

Ali, no museu que se queimou, também se queimaram as almas de quem produziu aquele conhecimento, também se queimou um futuro melhor que poderia advir do confronto entre esse conhecimento e novas almas ansiosas pela vastidão do saber. 

Mas por todo esse vasto país torturamos almas e conhecimentos com mais crueldade do que a mais vil ditadura. São centenas de museus, bibliotecas, centros de pesquisa, cinemas, teatros abandonados à própria sorte, definhando um pouco a cada vez em um processo lento e cruel que diz muito sobre o tipo de país que somos.

O museu que se queimou na noite de domingo, tal e qual um doente que agoniza por anos e finalmente morre, está livre. Outros seguem sofrendo nos corredores da burocracia de um Estado onde candidatos à presidência são escolhidos pelo show que produzem e não pelas ideias que apresentam. Vamos aguardar a próxima vítima. E depois a próxima e a próxima. Somos a audiência perfeita desse reality show da miséria humana chamado Brasil.

Eu me sinto em pedaços.

 


Leandro Vieira

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