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Por mais que a gente acredite que quem vê cara não vê coração, estamos sempre caindo em armadilhas de pessoas mal-intencionadas


Por mais que a gente acredite que quem vê cara não vê coração, estamos sempre caindo em armadilhas de pessoas mal-intencionadas. Dois dedos de prosa com aquela moça simpática que elogiou sua roupa e seu corte de cabelo e pronto, você jura que ela é sua melhor amiga até que a morte de suas energias vitais te prove o contrário. Aquele sujeito gente boa que vocês sempre encontram no bar da esquina parece gentil até que você e seu namorado abram a guarda e permitam que ele sente na mesma mesa que vocês e vomite um monte de bobagens sobre suas opiniões contrárias a tudo e qualquer coisa. Até o cachorro da vizinha que faz festa e abana o rabo um dia invade seu apartamento e destrói o seu tênis preferido. E essas coisas não ocorrem porque somos inocentes não. É porque não temos a dimensão de como há gente ruim no mundo.

Esses vampiros que nos perseguem noite e dia travestidos de pessoas comuns que só querem a nossa amizade são, na verdade, o pior tipo de droga que consumimos durante a vida. Eles se alimentam do seu desânimo, da sua raiva, da perda do seu controle. Satisfazem-se quando você sai do salto, grita, chora ou cai em qualquer tipo de desarmonia com ele, com você mesmo ou com o mundo. O importante, para eles, é que o sorriso constante e a felicidade estampada se apaguem. Alimentam-se de tentar tirar do outro o que nunca terão.

Para alcançar seu objetivo, não economizam veneno. Um jeito fácil de identificar? Nunca falam bem de nada e nem de ninguém. Ou tá muito frio, ou muito quente, ou chove demais, ou o vento incomoda. Acordam com a mesma cara que vão dormir e a amargura permanece intacta em seu coração no decorrer do dia, da noite, da semana, do mês e da vida. Não sentem prazer no trabalho porque não são reconhecidos. Não sentem prazer no dinheiro que ganham porque é sempre pouco. Não sentem prazer na casa onde vivem porque podia ser maior. Não sentem prazer no carro que dirigem porque podia ser mais novo. Dar ouvidos a tantas injustiças quase nos convence que faltou sorte. Mas não é isso. O que falta é leveza, gratidão e respeito. Porque, como se não bastasse achar que deveriam ser mais, desejam e tramam para que você seja menos. E perdem, com isso, um precioso tempo de trilhar com mais cuidado e afeto o seu caminho.

Não importa como, vão dar um jeito de te atingir. Vasculham suas redes sociais, espalham fofocas, criam intrigas, provocam brigas, tentam te envenenar. É preciso ter cuidado e andar por aí armado com água benta e crucifixo, já que vampiros estão por toda a parte e não sabemos nunca ao certo quando algum atravessará o nosso caminho. Estejamos preparados com amuletos, argumentos e algum desprezo. Sem esquecer de uma boa dose de coragem para não fugir da briga.

 


Paula Garruth Colunista

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