Vêm de bantus e nagôs - Jornal Fato
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Vêm de bantus e nagôs

Ainda hoje, o racismo é uma crônica doença, disfarçada em cinismo da vigente alva crença, que "em nome de Jesus" o negro já demonizou


- Foto Reprodução Web

Por que em nosso país todo negro, pra vencer, pra finalmente ser feliz, ter o que fez por merecer, antes é tão humilhado por quem teve privilégio, que o quer subjugado, como no Brasil Império? Ainda hoje, o racismo é uma crônica doença, disfarçada em cinismo da vigente alva crença, que "em nome de Jesus" o negro já demonizou. Preconceito ainda é cruz contra príncipes nagôs. De heranças milenares, conquistadas à dureza, lá do Egito a Palmares, negritude é nossa alteza.

 

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Um destino é traçado no mistério do Orun; no Aiyê, é revelado na linha fina do odu. A verdade tem seu 'mas', como o rio, a correnteza. Ifá bem sabe o que faz, você pode ter certeza. Se houver pedras e nós num caminho negativo, busque na força do ebó convertê-lo em positivo. Orunmilá Iboruboya! Orunmilá Iboshishe! Que sua sabedoria cubra-me de todo axé.

 

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"No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia, eu rezava por Nossa Senhora (ah, meu Deus!), como a pancada doía..." Dando um passo por vez, nesse caminho tão longo, quem hoje canta a vocês é só um Velho Congo, firmando bem às seis horas mais um simples ponto, entregue à Nossa Senhora e a todos os quilombos.

 

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Mas que dia tão bendito ladifora da janela. Bem-te-vi canta bonito. Quero ver a minha bela, da pele da cor da tarde do outono-primavera. Oh, saudade que me arde. A distância é megera. Nestes versos qu'eu faço de maneira tão singela, arrodeia os meus passos borboleta amarela.

 

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Vindo pra casa, tem uma mata desde o tempo dos caboclos. Quando eu passo, na alvorada, deixo uma reza e sete rogos; quando volto, à madrugada, deixo uma vela e sete cocos.

 

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Santo Antônio de Pádua, da barquinha de Noé, o segredo da água não é igual ao do café; vêm da mesma pedreira da nascente mais pura, mas café é candura, água é curandeira. Uma faz sempre o bem, outra vai muito além, apesar de que ambas numa linha só andam. Um segredo se deu no amargo do breu, um segredo se guarda na clareza da água.

 

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Nossa Senhora Aparecida, mãe de Deus, o Criador; mãe de gente aguerrida do Brasil batalhador; mãe preta do manto azul, mãe do povo sonhador, nos valei de Norte a Sul, nos livrai de toda a dor. Peregrino pequenino, filho de Virgem Maria, neto de Véi Severino, sou pecado e romaria. Minha bisavó Morena, sobrenome Conceição, dela eu herdei apenas esta humilde oração, camará...


Felipe Bezerra Jornalista

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