A dor da notícia - Jornal Fato
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A dor da notícia


Quem dera a imprensa pudesse só dar boas notícias aos leitores, espectadores e torcedores espalhados pelo país afora. Acostumados que somos com a alegria do futebol, de vibrarmos com a energia das torcidas e dos jogadores a cada campeonato ou disputa em campo, só nos interessa o gol, a vitória, o calor do abraço, o choro da emoção.

 

Mas, na última semana não foi assim. Assistimos perplexos a mais uma tragédia aérea que acabaria, dessa vez, com o sonho de milhares de chapecoenses de verem seu time campeão, e de uma torcida inteira de brasileiros, unidos e solidários à dor da perda, em ver se desmanchar o orgulho bom de - mesmo não sendo o time do coração - poder vibrar pela vitória de atletas tão merecedores, representando o país no primeiro jogo da final da Copa Sul Americana de Futebol, na Colômbia.

 

Desde a cobertura do resgate e identificação dos corpos, apuração das causas do acidente, à angústia das famílias e torcedores, à chegada dos corpos e o velório coletivo, impossível não se emocionar com o luto de uma cidade inteira e também com a dor daqueles que faziam as transmissões ao vivo e, impactados pelo fato, não conseguiram esconder o sofrimento de serem os narradores da notícia que, acredito, nenhum profissional de imprensa gosta de dar. Ainda mais envolvendo 21 colegas de profissão.

 

Chorei junto com os repórteres que, com a notícia engasgada, tinham que levar ao ar as informações que todos aguardavam. Uma notícia que fosse para trazer alívio e esperança a um povo constantemente abalado com relatos ruins do começo ao fim do dia. Jornalista estuda para fazer sempre as melhores perguntas, ter raciocínio rápido, chegar antes dos concorrentes e conquistar fontes confiáveis. Tem pressa para chegar, apurar, escrever e publicar, deixando que a razão se sobreponha à emoção.

 

Depois de um tempo no jornalismo, vamos aprendendo a exercitar o profissionalismo ainda que seja no limite, separando o interesse público do sensacionalismo e pura exploração da desgraça alheia. Não vale tudo para ser o primeiro a dar a notícia, desrespeitando a dor de quem está envolvido na reportagem. Experimentamos o amargo da profissão quando temos que informar sobre a perda de alguém muito próximo e querido. E, às vezes, até ser consolado por um entrevistado - como a mãe do goleiro Danilo fez com o repórter Guido Nunes ou por um colega de profissão como Evaristo Costa ao perceber que Ari Peixoto não conseguia concluir sua fala, numa transmissão ao vivo. Nesse momento, penso, a imprensa inteira se sentiu abraçada e consolada.

 

Já que seguir adiante é a única alternativa, tomemos o exemplo de outros clubes que viveram dramas semelhantes, como o Manchester United, da Inglaterra, que conseguiu se reerguer depois de um acidente em 1958, com 23 mortos, entre eles, oito jogadores. A comoção nacional, a solidariedade da torcida e a força das categorias de base levaram o Manchester ao topo em poucos anos, mostrando que o amor à camisa verde pode também renovar as esperanças do time de Chapecó. Uma notícia boa que repórteres do país inteiro vão aguardar, para um dia, contar.


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