A necessidade da poesia - Jornal Fato
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A necessidade da poesia


Leio por aí que lançaram este ano o livro "A poesia é necessária", uma reunião de poemas de diversos autores brasileiros publicados por Rubem Braga, numa coluna com este nome que ele mantinha na revista Manchete, na década de 50.

 

A frase traduz uma verdade: poucas coisas são tão necessárias na vida como a poesia. Não apenas a poesia escrita, o saber catalogado pelas academias. Mas poesia no sentido amplo geral e irrestrito. Poesia como o "sentimento do mundo", o individual olhar de cada ser humano, a fala única, a nossa maneira pessoal de nos colocarmos no mundo e nos envolvermos com ele.

 

Mas é claro que nem todos pensam assim. Poesia? Pura frescura, coisa de artista ou intelectual que está com a vida ganha. Quem pensa em poesia quando está passando fome? Ignoram, esses, que em poesia não se pensa. Não há miséria, fome, analfabetismo, loucura ou qualquer outra condição que afaste da poesia aqueles, poetas ou não, que a trazem no código genético.

 

Entretanto, parece crescer cada dia mais a legião dos que consideram que a poesia é irrelevante.  Estamos cercados por uma gente séria e objetiva, sem tempo para o bom humor, o romantismo e as divagações, sem tempo até para um pouquinho de sofrimento, para lamentar as perdas vividas pelo caminho.

 

Tecnocratas ocuparam a vizinhança e as Letras, e falam tão bem sobre coisa tão pouca... Vêm de todos os lados os mesmos discursos articulados e receitas brilhantes para a felicidade coletiva, onde o ser humano é apenas um detalhe. Sim, o mundo foi tomado pelos interesses maiores, da "Grande Máquina", que nós passamos a defender como se nossos fossem.

 

 "As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei", disse Drummond. Pois é o que penso: precisamos entender não apenas o que achamos ser o mundo das coisas concretas. O que nos falta é estabelecer relações com o que nos toca o espírito, aquilo que não compreendemos mas nos arrebata, o mundo dos amores, das coisas ternas e doces, do medo e das guerras travadas dentro de cada um de nós. Precisamos de mais indivíduo, para enxergar o coletivo. Precisamos de mais poesia.

 

 

 

 


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