Administração Nova, Turismo de Verdade - Jornal Fato
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Administração Nova, Turismo de Verdade


 

O TURISMO, INDÚSTRIA SEM CHAMINÉ é, há algum tempo, o grande "hit" mundial. São movimentados bilhões de dólares no mundo. Em Cachoeiro, nada ou quase nada. Anunciando-se à cidade novos tempos, eles deverão ser muito bons para o município. Vamos listar: Casa de Roberto Carlos, Feira Internacional do Mármore e Granito, Fábrica de Pios, Casa dos Braga, Fazenda Cafundó, Burarama, São Vicente, Cachoeira Alta, Pedra da Penha, Frade e a Freira (a vista, ao menos), Itabira, Morro das Andorinhas, quase um milhar de empresas de rochas ornamentais recebendo frequentes visitas de empresários. Há mais, com certeza. Mas vamos, em primeiro lugar, à parte ruim. Esses pontos, ainda que todos juntos, são insuficientes à formação de pólo turístico de importância nacional. Não há, por aqui, massa crítica a sustentar presença de milhares de turistas. Não havendo milhares de turistas, nenhum empreendimento turístico se sustenta. Não haverá empreendedor não havendo quantidade de usuários.

 

Se há parte ruim, há, também, parte boa, melhor, e que depende exclusivamente de solidariedade, aqui significando esquecer fronteiras municipais, trabalhando com o conceito de fronteira regional. É isso: não há turismo cachoeirense, mas haverá turismo regional, se tiverem juízo os próximos prefeitos da região sul.

 

E relaciono alguns eventos e locais da região. Na montanha: dezenas de hotéis de boa classificação, festas regionais como a da Polenta (Venda Nova), Vinho e Festival de Inverno (Domingos Martins). O clima bom de Vargem Alta, tão próxima. As praias; Castelo com a Gruta do Limoeiro e os tapetes de Corpus Christi: Alegre e seu festival de música e a Cachoeira da Fumaça; Muqui, com o casario antigo e as folias de reis; Marataíses e a Festa das Canoas; Mimoso, com o Festival da Viola e São Pedro de Itabapoana. É só uma relação, de eventos e de locais, bem rápida. Algo mais pesquisado encontrará muitos outros atrativos turísticos e culturais, afora outros que surgiriam, houvesse movimentação turística integrada.

 

Necessário que alguém junte os pontos do sul, a fim de que se forme massa crítica que permita visitas de turistas. Se o meu leitor perceber, verificará que todos esses eventos acontecem independentes um do outro, como se fossem organizados a centenas de quilômetros tanto de Cachoeiro, quanto cada um deles, independentemente.

 

Esse inventário que fiz, de Cachoeiro e do Sul do Espírito Santo, indica nossas boas possibilidades, e as possibilidades se multiplicarão se houver aproximação e interesse das novas administrações públicas da região, o que hoje não acontece. Espera-se que esse maior interesse seja incorporado pelas futuras administrações públicas municipais do sul, que deveriam perder bairrismo e orgulho besta, em favor de trabalho de maior alcance. E, nesse momento, certamente nossa importância como município fará com que a futura administração de Cachoeiro se sobressaia como liderança regional, mas sempre em favor de todos os municípios. É o que espero da próxima administração municipal de Cachoeiro de Itapemirim. (crônica escrita em setembro/2004. A esperança se concentrara na administração Valadão. Não deu certo, republiquei a crônica em maio/2007 e em novembro/2010. Veio a administração Casteglione e também não dá certo; julho de 2016 - mais uma a vez a republico. Um dia a gente acerta, ou publica mais uma vez. Até lá).

 

Foto: Paulo Henrique Thiengo

O Enterro de Jeremias

 

Hércules Silva

 

O compadre Jeremias falecera na tarde passada. Sua esposa e filhos lhe buscaram na funerária, logo depois do almoço.Tudo estava resolvido, e o velório seria na casa deste, depois seguiriam para o cemitério municipal, que ficava a hora e meia de distância.

 

O caixão ia sendo carregado com bastante pesar, e certa dose de desânimo e má vontade, debaixo daquele sol à pino que ninguém mais podia aguentar.

 

Diferentemente do velório que, na casa do dito cujo falecido, estivera bem agradável até, com biscoitos de vento, regados por um cafezinho fresco, a toda hora servido.

 

Ah, como fazia falta um cafezinho daqueles...

 

Seu compadre, o que lhe apadrinhava a filha mais moça, auxiliava no transporte do caixão junto de três; dois eram os próprios filhos do finado, e este último um sobrinho.

 

Na metade do caminho as coisas se tornavam demasiado difíceis.Estrada de terra, beirando ribanceira e sendo bloqueada pelo desmoronar de outra, estreitava o caminho, e "quando o defunto acha quem o carrega, ele pesa", já começava a fazer suar até nos lugares onde não se bate sol.

 

Foi cômico, mas foi trágico.

 

Viu-se que as tantas o desequilíbrio e descuido de quem carregava foi tanto que resultou na queda do caixão, que rolou, se desmanchou e fez o defunto despencar e também rolar, na poeira vermelha do barranco.

 

Recuperaram o cadáver, mesmo sujo e desconjuntado.O compadre então, anunciou que iria à cidade, para do próprio bolso, arcar com novo caixão, e, que sabe até melhor do que o outro, que sofrera desventura.

 

Faria exatamente assim, não fosse um vício, sua maior fraqueza.No caminho encontrou outros compadres apostando numa fezinha, no jogo do bicho.Pensou em não arriscar, pondo o dinheiro do caixão do amigo em jogo. Mas, mesmo assim, acabou se resolvendo por tentar.Por sorte, não é que o miserável ganhou, acertando no jacaré!

 

Bem de tardinha, quando já de volta à casa do compadre, chegou trazendo o novo caixão, como havia prometido, e brincou:- É, cumpadre Jeremias! Se num fosse o jacaré, urubu te cumia!...

 

(Hércules Silva é um jovem que reside em Cachoeiro e vem se revelando bom cronista - tem 19 anos e, até ontem, assinava sob pseudônimo de Christian Silva).


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