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Ado-ado-ado


 

Sou daquelas que adoram uma música popular. Sim, a MPB é o meu gênero preferido, mas não é dela que estou falando. Estou me referindo a essas pérolas que surgem uma ou duas vezes por ano, quase sempre no verão, ultrapassam a fronteira das rádios que a gente não ouve e vão parar direto em nossos ouvidos, não se sabe bem como.

Falo de invenções geniais como as antigas "Dança do Créu", "Eguinha Pocotó", "Beber, cair, levantar" e "Ai, se eu te pego", para limitar o repertório. Reconheço: linguagem vulgar, rimas pobres, nenhuma poesia, perfeita indigência musical. No entanto, são canções divertidas e envolventes, que fazem a elite torcer o nariz, mas movem as massas. Eu gosto, fazer o quê? E acho até que se pode aprender muito com elas.

Por exemplo: nos últimos dias tenho pensado muito num desses clássicos populares, o sucesso "Quadrado", que, conforme me revela a Wikipedia, trata-se de uma composição da para mim desconhecida apresentadora de programas infantis Sharon Acioly. Digam o que quiserem, mas Sharon tem uma qualidade admirável: a capacidade de dizer muito em poucas palavras - o que, nesses tempos em que somos bombardeados por tanta informação e perdemos a paciência de ler mais do que dez linhas sobre qualquer assunto, é mesmo um talento invejável. 

"Quadrado" é uma lição de vida, e o mundo seria muito melhor se todos a levassem a sério: que cada um se atenha a sua própria seara. Claro, é muito bom ter pensamento crítico, aventurar-se em áreas desconhecidas, mas com a humildade de sabermos que não somos especialistas em tudo. Aliás, a maioria de nós não é especialista em nada mesmo. Infelizmente, falta-nos autocrítica e ocorre justo o contrário: não estudamos, não lemos, ficamos por ali, vagabundeando pelas redes sociais, e de repente "zás!" (alguém ainda usa onomatopeia?) - somos tomados pelo desejo incontrolável de opinar sobre algo que desconhecemos totalmente.

Normalmente esta provocação vem de alguma informação que nem mesmo sabemos se é verdadeira ou falsa, se tem fonte confiável, se carrega alguma segunda ou terceira intenção. Mas ainda assim vamos em frente, e passamos a dissertar sobre assuntos complexos com a maior desenvoltura. Agimos como portadores da verdade, embora na realidade sejamos mesmo uma legião de ignorantes que reverbera pela internet, da qual muito bem falou o Umberto Eco.

Então, como vemos, uma grande lição de vida pode vir de uma reles canção popular. Ado-ado-ado me ensinou muita coisa, e por isso mantenho meus ouvidos abertos a tudo. Claro que nem sempre vale a pena, mas não é por qualquer prevenção ou preconceito musical que serei abatida. Já estou até ansiosa: qual será o hit do verão 2016? equebrando sua per nenhum deles ço um ou outro gringo. tos de sociologia. 

 


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