Assédio ou não? - Jornal Fato
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Assédio ou não?


Caminhava pelas ruas de Cachoeiro, num sol escaldante, quando passa ao meu lado um senhor que me avisa para eu ter cuidado com o sol. Nada respondo ao desconhecido e ele completa: Benza a Deus, mas você é bonita, hem? Bem, a essa altura da vida receber um galanteio é raro e nas circunstâncias citadas, não me causou constrangimento, pela ausência de conotação sexual, portanto em meu ponto de vista não houve assédio, foi um elogio que poderia ser feito por qualquer amigo. E eu me senti bem e feliz.

 

O assédio ocorre quando se pressiona para qualquer tipo de contato, quando se agarra sem consentimento ou quando se utiliza de uma situação de proeminência para se forçar à barra. Qualquer mulher sabe exatamente o que para ela significa um assédio. Partindo para situações mais abrangentes é o que as atrizes estão denunciando a respeito dos diretores e atores que se aproveitam dos seus cargos ou funções para assediá-las. O movimento está tomando forma e vulto, as mulheres estão sendo encorajadas a denunciar, estão entendendo que se um atrevido ou tarado tenta abusar delas, eles é que são culpados e não elas por estarem usando roupas atraentes, por serem belas ou algo assim. A mulher carrega um sentimento de culpa que atravessa toda história do mundo e das religiões, afinal foi Eva que fez Adão pecar. E existem as que ainda acreditam que se o marido as trai, é porque ele é vítima de uma vagabunda sedutora.

 

Estamos assistindo as mulheres se mobilizarem em todo mundo. Na edição do Globo de Ouro deste ano a atriz e apresentadora Oprah Winfrey liderou o movimento, Time's Up,  do qual participaram todas as atrizes, e centenas de ativistas, que foram ao evento vestidas de preto. Na contramão do movimento das americanas, na França a atriz Catherine Deneuve lidera um movimento contra o excesso de puritanismo sexual e a favor das cantadas. Mas, devido as criticas que têm recebido, ela tenta se justificar alegando que as cantadas que o grupo dela apoia não são as insolentes, inoportunas, tipo "gostosa", "tesão" e sim as elogiosas e agradáveis aos ouvidos, como a que recebi. Não sei não, o assédio sempre aconteceu, a diferença é que não éramos incentivadas e apoiadas à denunciar. E desde jovem sabíamos distinguir a cantada ingênua tipo: "A nora que mamãe queria", "Depois diz que boneca não anda", do assédio propriamente, que sempre nos causou constrangimento. E não tenhamos medo de denunciar, a igualdade de gênero ainda depende de muita luta. Portanto vamos a ela! Marilene De Batista Depes

 


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