Conexão Mansur - Jornal Fato
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Conexão Mansur


 

Filha de José Coelho Ferreira e de Julita Moreira Coelho, nasceu em Vista Alegre, Cachoeiro de Itapemirim em 31/03/1909, e morreu, também aqui, em 26/02/1986. Era casada com o português Luiz Marques Pinto, com quem teve os filhos Maria Luma e Carlos Luiz Pinto (Carlupin).

 

Lecionou, durante toda a vida em Cachoeiro de Itapemirim. Em 1949 foi colocada, pelo Governo do Estado, à disposição da Campanha de Alfabetização de Adultos, que ela fundara em 25/01/1948 e que prestou inúmeros outros serviços (culinária, bordados, corte e costura, desenho, pintura etc.) sempre pelo lado prático da vida, sem exageros de teoria ou de planejamento que, no fim, só dão mais teoria e planejamento.

 

Enquanto viveu, foi a única responsável pela manutenção em atividade da sua Campanha de Alfabetização. Alguns ajudaram, sim, mas nada que se compare ao que D. Zilma fez. A petrolífera Standard Oil, na época uma das grandes multinacionais de nível planetário, homenageou-a, incluindo-a como uma das Brasileiras Beneméritas, poucas, diga-se.

 

Pioneira na alfabetização de adultos, seu trabalho atravessou fronteiras e chegou a São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e Amazonas. Também foi reconhecida em Portugal e na Organização das Nações Unidas, sendo destaque na revista de circulação mundial da UNESCO, "Le Courrier" ("O Correio da Unesco", no Brasil), em 1950.

 

Foi capa da Revista "O Cruzeiro", a mais importante do país, em sua época, isso em 13/05/1950, a(o) primeira(a) cachoeirense a ter essa homenagem (equivale, hoje, a ser capa não política da revista VEJA, e com matéria favorável).

 

Seu sonho era que chegasse um dia em que poderia ser colocada à entrada de Cachoeiro, uma placa com os dizeres "Nesta localidade não há analfabetos". Disse o Prof. Maciel: "se não chegou a realizar o seu desejo, deu exemplo de trabalho e dedicação a um ideal que se movia a esperança e a felicidade". Também está certo o historiador Evandro Moreira, ao dizer que D. Zilma é "uma das belas páginas de nossa história, exemplo de dedicação e fé ... professora cheia de ideais ... conseguiu vencer com sua fé e energia o desinteresse, a má vontade, a burocracia e as prevenções dos governantes sempre desinteressados das coisas realmente importantes".

 

Mereceu semelhantes comentários de Rubem Braga que, como se sabe, sempre foi econômico em elogios.

 

(No último dia 31 de março D. Zilma teria completado 107 anos de idade. Breve será lançado livro em homenagem ao trabalho educacional dela - por isso e por tudo, esta pequena crônica sobre a grandeza dela e de seu trabalho).

 

De repente, uma Bola de Arte

 

 

A riqueza das artes, representada pelos artesãos de Cachoeiro é imensa, por isso a exclamação da artesã-chefe Sirlei Alves, ao ver - entre outras - a obra de arte que está nesta página. Disse ela: "Que lindo! Como existem artesãos anônimos na nossa cidade; é preciso descobri-los e suas muitas obras de arte". Como sempre, ela está certa.

 

Fui comprar pão na padaria ao lado de minha casa, Bairro Independência, padaria do Douglas Brandão, e encontrei - entre muitas outras - essa obra de arte, dele, Douglas Brandão. Uma bola de futebol torneada manualmente a partir de cuias de coco que ele vai juntando. São verdadeiras obras de arte de um contador por diplomação, padeiro por profissão e artesão com muito gosto e qualidade.


Embora escondida sob o balcão, não me foi difícil puxá-la para cima e fotografar essa bola de futebol de primeiro mundo artesanal. Difícil foi convencer ao Douglas se deixar fotografar frente ao seu estabelecimento comercial - sua padaria, aliás, muito elogiada desde décadas, pelo jornalista Joel Pinto, que não se cansava desses elogios. E é assim até hoje.

 

O artesanato, tenho dito por aí, certamente copiando palavras de gente inteligente e comprometida com as artes, o artesanato é marca das importantes para o desenvolvimento cultural e social de uma cidade e a arte de Douglas demonstra isso em relação a Cachoeiro de Itapemirim.

 

O Genro de Pero Vaz de Caminha

 

Todos conhecemos a carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei de Portugal, D. Manoel I, em 1º de maio de 1500, onde, entre outros, o escrivão anuncia a descoberta (achamento, para ser fiel ao texto de Caminha) do Brasil: O texto de Caminha é este: "A Vossa Alteza peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da Ilha de São Tomé Jorge do Soiro, meu genro, o que receberei como muita mercê de Vossa Alteza".

 

Na forma sempre negativa de tratar nossas origens, sempre se tem entendido esse trecho da carta como uma declaração explícita de nepotismo. Às vezes, é forma de defesa: quando alguns não têm coragem de denunciar o nepotismo de hoje (ainda que parentes possam ser tão competentes, ou mais, que não parentes), sempre se sai com essa: "O Brasil é assim desde a descoberta pelos portugueses", Será mesmo?

 

No livro "Brasil 1500 - Quarenta documentos", de Janaína Amado e de Luiz Carlos Figueiredo (Imprensa Oficial de São Paulo e Editora UNB - 552 pág.), está (pág. 117) o texto que segue, comentando essa parte da carta de Pero Vaz de Caminha:

 

"Essa frase costuma ser erroneamente interpretada no Brasil, com o sentido de que Caminha estaria pedindo ao Rei um cargo ou emprego para o genro. O que Caminha solicita, na verdade, é a remoção do genro da Ilha de São Tomé, na África, para o reino de Portugal. O que estaria fazendo na remota São Tomé, o genro de Caminha? Existe a possibilidade, bastante forte, a nosso ver, de o genro de Caminha haver sido condenado ao degredo em São Tomé, já que essa ilha, devido exatamente ao grande número de degredados que recebia (inclusive duas mil crianças judias, arrancadas aos pais quando da expulsão dos judeus de Portugal, decretada em 1496), era conhecida à época como "ilha dos degredados". Alguns autores, como Manoel Viegas Guerreiro (A Carta de Pero..., p. 15), dão como certa a condição de degredado, para o genro de Caminha: "... que lhe liberte o genro, degredado em S. Tomé". Segundo Henrique Campos Simões (As cartas do Brasil, p. 49/50), o genro de Caminha era casado com Isabel de Caminha, filha do escrivão com Catarina Vaz de Caminha".

 

Fica a reflexão para o leitor.

 


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