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O assunto dos últimos dias no mundo da literatura é a indiferença de Bob Dylan a um dos prêmios mais badalados não apenas entre escritores, mas em outros segmentos acadêmicos. O indicado à honraria leva medalha em ouro, diploma e uma significativa soma em dinheiro. Além, é claro, da admiração no mundo inteiro.

 

Perguntei a amigos próximos: e se você ganhasse o Nobel? Aceitaria de bom grado ou recusaria? A maioria concordou sem delonga. Afinal, como renunciar a esse atestado de genialidade e respeito em toda a comunidade acadêmica? Uma honraria que, justa ou não, dá prestígio e credibilidade em outros trabalhos do vencedor.

 

Mas, estamos na era da superexposição, onde tudo é divulgado e propagado de forma rápida e aparentemente normal, e declinar de um prêmio como esse pode parecer arrogância. Há quem não se preocupe com opiniões e simplesmente rejeita ou fica indiferente, como Dylan. Outros se justificam, como Sartre, um dos maiores pensadores do século XX, consagrado com o Nobel de Literatura de 1964. Na carta à Academia Sueca, o escritor diz que sempre recusou distinções oficiais para que essas não contaminassem suas obras. Eis um trecho:

 

"Um escritor que assume posições políticas, sociais ou literárias somente deve agir com meios que lhes são próprios, isto é, com a palavra escrita. Todas as distinções que possa receber expõem seus leitores a uma pressão que não considero desejável. Não é a mesma coisa se eu assino Jean-Paul Sartre que se eu assino Jean-Paul Sartre, Prêmio Nobel."

 

Renunciou e pronto.

 

Desconheço as razões de Dylan. Porém, entendo que na fila de escritores merecedores há nomes que já poderiam ter levado o prêmio. Durante esses dias li muitas 'teorias' sobre a escolha de um músico e não um escritor para o Nobel desse ano. Contradições à parte, não há maior reconhecimento que a opinião simples e sincera do leitor, que compra e debate o livro e escreve ao autor para contar sobre seu sentimento durante a leitura ou o aborda em qualquer lugar só para dizer "seu último livro não é tão bom quanto o anterior". O que motiva a produção literária sempre será o leitor. Não exige honrarias.

 

O Nobel de todos os dias talvez seja acreditar que cada descoberta produz um sentimento imprevisível. Vale para o escritor e deve valer também para o cientista ou pesquisador. Talvez, ao se conhecer melhor a história de Alfred Nobel e as razões para a criação do prêmio, não se julgasse com tanta severidade quem recuse o glamour. Há muitas razões para se premiar ou não alguém, da mesma forma que para torcer o nariz quando se é indicado para homenagens.https://ci6.googleusercontent.com/proxy/RnNZfQn2o2xpggJQqefCOervMbPIci5mujDPJnvl43kv6Rtxjyh5gHN_JKVzeU-aaGz3pePFgxfoAAtZJZNx8mveVTc-11j98EfuAJVcumUenA=s0-d-e1-ft#https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gif

 

A expectativa agora é se Dylan vai à cerimônia de premiação. Comparecendo ou não, o Nobel é dele. 

 


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