Novos mares - Jornal Fato
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Novos mares


"Quando a vida nos cansa / E se perde a esperança / O melhor é partir / Ir procurar outros mares / Onde outros olhares que nos façam sorrir" (Novos Rumos, Paulinho da Viola)

 

Li certa vez que não se pode descobrir novos mares enquanto se tiver medo de perder a costa de vista. A busca pela segurança impede muitas vezes de mergulharmos em novos aprendizados, sensações e sentimentos, porque estamos presos àquilo que entendemos ser a terra firme, o chão, o porto seguro. E assim, muitos findam mais um ano vendo embarcações partirem sem rumo em mar aberto...

 

Por que não fiz viagens?, alguns se indagam. Dos que foram, alguns retornaram mais livres, sonhadores. Outros não voltaram, prosseguiram em outros barcos com outros viajantes. Em comum, o desejo de mudança e ousadia de se por à prova todos os dias. De longe, há os que resistem desatar os nós que os prendem ao cais. Afinal, pra que deixar para trás ideias enferrujadas pelo tempo e se aventurar em tempestades desconhecidas, viver em apuros, morrer de saudades, sofrer de distâncias, desabrigado e em perigo?

 

Como se nada disso estivesse na sombra que nos abriga, na suposta paz do cotidiano. Como se em terra firme não houvesse perigo e medo, obstáculos e isolamentos. Como se não tivéssemos que interpretar o tempo tal como entender o mar, suas ondas, suas razões. E ter que emergir a cada naufrágio, como quem vence uma prova muito importante e ninguém sabe e nem dá importância. Porque essa vitória é muito pessoal.

 

Há gente demais em pódios, fotos e páginas de revista exibindo troféus, títulos e honrarias quando, na verdade, gostariam da simples aventura de mudar. Não tão simples quando se trata de por à prova a si mesmo, permitindo-se a novas experiências, sem a obrigação do acerto. Porque nessa viagem o importante é decidir.

 

Mais um ano se passou e quando me perguntam o que fiz com tantas mudanças, digo que continuo infinita assim como o mar, e já não há nada nele que amedronte quem já aprendeu a navegar em tempo bom ou tempestades. Há sempre outros mares para aquele que decide partir.


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