?O Cachoeirano? Vive - Jornal Fato
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?O Cachoeirano? Vive


São três histórias acontecidas comigo, semana passada- uma conto hoje, as outras conto depois. Vamos lá!A Câmara de Cachoeiro é depositária de documentos importantes da história de Cachoeiro. De vez em quando, adormecido de século, salta de lá algum documento importantíssimo, perdido entre milhares de folhas amarelecidas pelo tempo, mais de um século, no caso especifico, cento e quarenta anos.

 

Procurava, eu - na hemeroteca da Biblioteca Nacional - o número 1, do ano 1 do jornal "O CACHOEIRANO", jornal que deu luz a Bernardo Horta, jornal mais importante de Cachoeiro em todos os tempos, que funcionou, a partir de 07 de janeiro de 1877, por 46 anos e pouco mais. Cheguei aos registros de "O CACHOEIRANO" na hemeroteca, mas, qual o quê! Lá não existem as duas primeiras páginas do jornal; consumidas pelo manuseio de quantos as leram. Fiquei inconsolado e inconsolável.

 

Pois bem, atrás da segunda história que ainda contarei, me deparei, no gabinete do Presidente da Câmara, guiado pela Ana Pancini, com três antigos volumes encadernados de papéis antigos.  Afastei o primeiro, que falava do Rio de Janeiro de 1900 (tavaescrito na capa, não abri) e fui direto ao segundo. Lá estava, depois de 140 anos de guardado, em perfeitas condições de leitura, sem manchas, sem nada obscuro, sem faltar pedaço, a coleção de 1877 de "O CACHOEIRANO", do número 1 em diante. Pra mim que trago Cachoeiro em primeiro lugar, para mim que acho que leitura e imprensa livre são primordiais, é como se tivesse descoberto uma mina de ouro, com a qual compraria zilhões de livros e jornais para distribuir.

 

Depois, com o interesse do presidente Alexandre, da Ana e do Wilson Dillem, estamos armando (eles) a possibilidade de organizar pequeno e precioso arquivo das coisas públicas da Câmara e de Cachoeiro, para exposição permanente numa das salas da Câmara. Os amigos citados aqui não sabem, mas já providenciei visita deles ao Arquivo Público do Espírito Santo, para ouvir, de CilmarFrancisqueto, como se faz um arquivo público tão bom quanto tão sério como o comandado por Cilmar.

 

Volto em breve, com as outras duas histórias e com mais um capítulo desta que comecei a escrever aqui. Enquanto isso, divirtam-se com a má foto deste mau fotógrafo: maravilha recém-descoberta, primeiro exemplar - primeira página - do mais importante jornal cachoeirense. (Vou colar a cópia inteira da primeira página do jornal na parede do Café Mourads, centro da cidade).

 

Flores de Holambra na Praça de Cachoeiro

 

No momento em que você me lê, acontece, no centro de Cachoeiro, a Feira de Holambra (31/08 a 10/09/2017, de 09 às 20 h), evento que comemora 14 anos de existência e que, além de florir a cidade, traz, ao fim, efeito social da maior qualidade - até pelo seu tempo de funcionamento. É dos eventos mais importantes da região. Para ficar só no efeito social, o lucro gerado, o que fica em Cachoeiro, já corresponde a mais de 1500 cadeiras de rodas e de banho para portadores necessitadas.

 

Conheço muitas atividades beneficentes em Cachoeiro - e ótimas, mas desse coturno, são poucas e todos os aplausos devem ser dirigidos ao Lions Clube Cachoeiro.

 

O clube não faz propaganda, trabalha em conjunto sequer diz quem são seus membros, menos ainda quem está à frente dele. Talvez por tal, tenha levado a Secretaria Municipal de Cultura a entender que o evento é comercial. Para Lions e para os necessitados, não é. Poderiam dizer que para a cidade de Holambra é; direi que sim, também comercial, mas se a cidade de Cachoeiro procurasse saber mais, seguiria o exemplo da pequena cidade paulista, que dá show no divulgar e vender o esforço próprio e as belezas produzidas pelos comerciantes e agricultores da sua abençoada terra. Justo que ganhem.

 

Parabéns povo de Holambra, parabéns Lions Clube Cachoeiro. Poder Público de Cachoeiro - mire-se no espelho de Holambra e do Lions e anote: em 2018 tem mais, mesma época, mesma praça (e neste ano tem lá música de Cachoeiro, de qualidade).

 

URBANISMO

 

LauritoAppolinario

 

Abaixo da cidade, atracavam, antigamente, as primeiras canoas que subiam da barra do rio e, no mesmo lugar, acampavam também as caravanas vindas do interior.Um rancho teria sido o laço de ligação entre os homens do sertão e os homens do mar.Ao rancho teriam sucedido as primeiras propriedades, as primeiras casas de negócio, a povoação, a cidade, enfim, em 25 de Março de 1867.

 

Cachoeiro nasceu espontaneamente, alimentou-o o intercâmbio comercial e assim foi crescendo com os defeitos de tudo que se constrói segundo a lei do menor esforço.

 

Ao lado das encostas e chapadas amenizadas pela brisa, dos picos elevados e suas vistas panorâmicas, da poesia marulhosa do Rio Itapemirim, somos forçados a reconhecer a deficiência do concurso humano no aproveitamento artístico das condições locais.

 

O urbanismo é difícil, tanto no seu aspecto científico como nas aplicações artísticas, por isto, Cachoeiro precisa recorrer aos recursos de que pode dispor esta especialidade da engenharia, em benefício da sua comodidade e embelezamento futuros.

 

As pitorescas margens do Rio Itapemirim ficaram vedadas pelas construções marginais e as encostas dos morros são ainda edificadas sem a orientação de um plano urbanístico.

 

Poderíamos comparar esta cidade a uma moça que, adquirindo tecidos finos, cortasse, ela própria, seus vestidos, deixando passar defeitos tais que em vez de lhe realçar, concorreriam para lhe desvirtuar os encantos naturais.

 

Quando uma cidade nasce, se esta cidade não é Petrópolis ou Belo Horizonte, que tiveram pais ricos e sábios, vive e vai crescendo à mercê das próprias tendências, com os vícios próprios dos primeiros anos da existência, como acontece à criatura humana sem assistência eficiente, sem a educação do berço, como diz o povo.

 

Todavia, naquele caso, como neste, virá o dia em que se desenvolverá a ambição, a vaidade, o desejo de concorrer, sem humilhação, no cenário da vida, nas competições individuais.

 

Cachoeiro é uma cidade já moça. Já sabe que possui seus encantos naturais, seus recursos adquiridos e suas possibilidades futuras, mas não pode, por falta de racional orientação no passado, apresentar-se irrepreensivelmente vestida no presente.

 

Se as mocinhas precisam, para apresentar-se bem, recorrer a uma modista, recortar seus vestidos, reformar seu vestuário de acordo com a moda, Cachoeiro também precisa projetar suas ruas, praças e avenidas, abastecimento e drenagem de acordo com as últimas conclusões da ciência urbanística.

 

Não há necessidade de se reconstruir uma cidade de um ano para o outro. Um plano de remodelação pode ser projetado no espaço como no tempo.

 

(Texto publicado originalmente na Revista "Cachoeiro de Itapemirim", maio/1938, págs. 19/22 - lá se vão quase 80 anos e a "coisa" continua a mesma; vergonhosa - a cidade sempre foi desrespeitada quando ao urbanismo).

 


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