O outro muro da vergonha - Jornal Fato
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O outro muro da vergonha


O dia 9 de novembro de 1989 marcou a queda da assim chamada Cortina de Ferro e se não encerrou de vez, pelo menos antecipou de maneira acentuada o final da Guerra Fria e o desmantelamento da União Soviética. Após 28 anos de separação as duas Alemanhas enfim voltariam a ser novamente uma só nação; caía nesse dia o odiado Muro de Berlim.

 

Guardadas as devidas proporções, cerca de 30 anos após a queda do Muro da Vergonha o mundo assiste incrédulo se erguer outro muro, dessa vez na América do Norte. Sob o pretexto de proteger os Estados Unidos, o presidente recém eleito Donald Trump cumpriu promessa de campanha e assinou decreto que destina recursos para construir um muro intransponível de cerca de 1.600km, separando a terra do Tio Sam do México - há previsão de que a extensão possa superar os 3.000km, atravessando assim todo o continente de leste a oeste, saindo Golfo do México, cortando as Montanhas Rochosas e chegando ao Oceano Pacífico.

 

Supõe que, dessa maneira, ao isolar, protege o povo norte-americano dos imigrantes cucarachas que roubam empregos e oneram o já combalido sistema de assistência social norte-americano - notem bem que os argumentos são dele, não meus. Os custos totais com a construção estão estimados em até US$ 25 bilhões, ou R$ 79,5 bilhões, cuja conta será enviada ao vizinho do sul - que já disse que não pagará um centavo sequer, mas que pagará de uma forma ou de outra, conforme já assegurou Mr. Trump.

 

Por si só a existência de tal obra de engenharia traria outras consequências, além daquelas pretendidas pelo governo americano, uma vez que este muro deverá ter 1,5 metro de profundidade e de 9 a 16 metros de altura. Haverá impactos ambientais sobre fauna e flora e também sobre as propriedades que atravessará, em função das desapropriações necessárias. Em suma, será um transtorno não apenas para os mexicanos.

 

E o que de bom virá desse muro? Impedirá realmente que imigrantes ilegais, em especial os traficantes, seu principal alvo - sejam eles mexicanos ou não - entrem nos Estados Unidos ou que continuem a enviar para lá suas mercadorias? Ora, alguém já ouviu falar que traficante emigra? Se eles são notórios, não possuem nem passaporte, e se não são conhecidos, com certeza não encontrariam dificuldades para entrar e sair de outro país que não o seu.

 

Ele já anunciou também que criará barreiras à importação de veículos fabricados tanto no México quanto no Canadá e que as montadoras deverão erguer novas fábricas nos EUA a fim de gerar novos empregos. Seu slogan de campanha foi Make America Great Again - Fazer a América Grande de Novo, e repetiu por diversas vezes que a América deve vir em primeiro lugar - America First - revelando assim uma política nacionalista, populista e protecionista.

 

Entendo pouco ou quase nada de relações internacionais, mas acredito que os metalúrgicos do Tio Sam não aceitarão receber os mesmos salários dos seus colegas latinos, canadenses ou orientais. Como consequência, não creio que os preços dos veículos permanecerão os mesmos, também. Este é apenas um pequeno exemplo. Ressuscitar a política isolacionista em pleno século XXI pode vir a ser um tiro no pé. Ou no bolso.

 


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