Porque a gente escreve  - Jornal Fato
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Porque a gente escreve 


Dentro do ônibus, linha Vitória x Cachoeiro, sou abordada por uma passageira quando passava pelo corredor. "Você é aquela moça que escreve, né?", pergunta a senhora de meia idade, muito simpática e com um livro à mão - um excelente companheiro de viagem. Respondo que escrevo sim, mas mais por excesso de sentido, para aprender a viver. Ela ri e concorda.

 

Sou alguém que escreve para não ser interrompida quando tomar a iniciativa de falar; e pela total incapacidade de concluir o que começou, deixa para o leitor a missão de dar existência ao apelo da história, da obra, que faz do caderno ou do teclado um divã pronto para as mais instigantes paixões ou inquietações.

 

Escrever é também um exercício de humildade. Uma maneira de completar o que não foi dito pelo personagem, de expor pensamentos e opiniões e sair correndo. E do nada deparar com um leitor que vai dizer que leu o que escrevemos. Não apenas leu, mas sentiu e viveu. Alguém que passando pela sua história, resolveu sentar e prestar atenção. E no meu caminho esteve a revista Cachoeiro Cult.

 

No próximo sábado vamos celebrar dez anos desse que é um dos instrumentos de maior importância para a literatura e a cultura de Cachoeiro. A data será marcada pelo lançamento do livro "Esse ofício das letras" que reúne 26 escritores que tiveram seus textos publicados na revista ao longo dos últimos quatro anos. É a terceira coletânea do gênero organizada pelo Marcelo Grillo e o Fernando Gomes. Dois incansáveis na missão de desengavetar e publicar textos de autores cachoeirenses. A Cult deu vida a centenas de histórias e personagens. 

 

Estou feliz pela data, por ser parte de algumas conquistas e olhar para trás e ver que tanta coisa boa aconteceu. Não somos mais os mesmos desde que assumimos, cada qual sua função, nessa relação com o mundo através das palavras e ter, como a escritora Rachel de Queiroz certa vez escreveu: "o desejo interior de dar um testemunho do meu tempo, da minha gente e principalmente de mim mesma: eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista. Creio que o impulso de todo artista é esse. É se fazer ver. Eu existo, olha pra mim, escuta o que eu quero dizer: tenho uma coisa pra te contar. Creio que é por isso que a gente escreve."

 

Fazem parte da coletânea "Esse ofício das letras": Aline Dias, Breno Calegari, Bruna Prucoli, Célia Ferreira, Cinthia Belonia, Claudia Sabadini, Estelemar Martins (in memoriam), Evandro Moreira, Fábio Brito, Felipe Mourad, Fernanda Barata, Fernanda Fassarella, Fernando Gomes, João Moraes, Ludmilla Clio, Luiz Carlos Cardoso, Luiz Trevisan, Marcelo Grillo, Milena Paixão, Milton Ximenes Lima, Nayara Tognere, Paula Garruth, Regina Herkenhoff Coelho, Regio Antonio Moulin Batista (in memoriam), Sérgio Garschagen e Simone Lacerda. Na ocasião também serão lançadas as obras "Simplesmente Monte Alegre", de Leonardo Ventura, e "Quase", de Marcos Roly. O evento será no Mourad's, dia 17 de dezembro, sábado, a partir das 9h. 

 


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