Rumo ao admirável mundo novo - Jornal Fato
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Rumo ao admirável mundo novo


 

O mundo está mesmo mudando muito rapidamente. São inúmeras as grandes transformações, quase sempre relacionadas entre si: Primavera Árabe, refugiados na Europa, a insurreição das hordas fundamentalistas e nazifascistas pelo mundo afora. Ao mesmo tempo, vemos reformas pontuais, que parecem desimportantes diante de tanta coisa grande acontecendo por aí. Mas será que são mesmo mudanças inexpressivas?

 

Duas dessas notícias "menores" me surpreendem, embora, pensando bem, não sejam nada surpreendentes. A primeira delas é o fim da obrigatoriedade do ensino da escrita cursiva na superdesenvolvida Finlândia e em quase todos os 50 estados norte-americanos. É tendência mundial: as crianças aprenderão a escrever apenas com letra de forma, e não mais com "letra corrida", ao mesmo tempo em que serão incentivadas a digitar em tablets desde a alfabetização. Já no Japão a novidade é outra: várias universidades anunciaram o cancelamento de cursos de ciências sociais e humanas, entre eles Direito e Economia, após o governo pedir que elas priorizem áreas que contemplem "as necessidades da sociedade". Traduzindo: tecnologia de todos os tipos.

 

Talvez seja hora de reler os clássicos "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley. O primeiro livro, publicado em 1949, imagina um futuro onde uma ditadura absoluta controla e oprime violentamente os cidadãos, determinando os locais onde devem morar e trabalhar, e até os trajetos e as palavras que podem utilizar. O segundo, de 1932, prevê um futuro com a sociedade dividida em castas criadas biologicamente, onde o conformismo é mantido à base do consumo obrigatório de uma droga distribuída pelo governo. Um mundo onde ciência, tecnologia e racionalidade servem aos controle social, sem deixar espaço para a criatividade, a individualidade e o livre pensar.

 

Não tenho dúvida de que caminhamos em direção a uma novíssima ordem mundial. Há boas expectativas e costumo ser otimista. Mas confesso que tenho me assustado com a possibilidade de um planeta parecido com a mistura das previsões de Orwell e Huxley: blocos de países unidos em regimes totalitários, estruturados sobre as indústrias de armas, tecnologia e informação. Um mundo onde a medicina, os laboratórios e a alimentação formatem nosso corpo/cérebro de acordo com as exigências oficiais. Onde não existam direitos nem arte nem história. Onde somente possamos escrever e ler em computadores, e somente aquilo que nos for permitido.

 

Delírio? Nossos filhos saberão a resposta.   
 

 

 


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