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Na Era da Tecnologia, nossas mãos parecem atrofiadas para a escrita manual. Enquanto a comunicação se torna mais intensa, o papel e a caneta tornam-se raros em nossas vidas.

Isso ocorre porque, a todo instante, conversamos e produzimos mensagens singulares ou textuais através da escrita. Contudo, essa tem sua forma própria e seu caminho específico de manifestação:  WhatsApp; facebook, instagram; etc.

Não é diferente com a leitura: livros, jornais, periódicos e textos tomam forma virtual e são lidos em grupos virtuais, sites, eBooks, PDF's, ... Registra-se que as grandes editoras têm livros digitais ofertados para os leitores que já perderam o hábito de lidar com o papel.

Eu, particularmente, sinto falta de manusear livros com as mãos, gosto de marcar suas mensagens e de dobrar orelhas na última página lida. Contudo, não posso reclamar, pois, diante dessa mudança brusca de hábito, algumas profissões se tornaram facilitadas.

Nesse sentido, "tiro o chapéu" para advogados mais antigos que tinham que buscar publicações em incontáveis folhas de diários oficiais; que tinham que manusear livros enormes em busca de leis, de artigos e de atualizações legislativas, nem sempre localizadas. Isso sem falar na busca por doutrina e por jurisprudências (decisões dos Tribunais).

Hoje, todas as leis estão disponíveis - com atualizações imediatas - na internet. Conseguimos acessar decisões paradigmas e divergentes dos tribunais quase no mesmo instante em que são julgadas. Sem falar que podemos digitar nossas petições iniciais e intercorrentes de modo que, com facilidade, acertamos os erros cometidos e salvamos os arquivos para posterior complementação, ajuste ou leitura, o que não era possível na Era, não tão antiga, da Datilografia.

Como nada é perfeito, o problema ocorre quando a internet nos abandona ou quando o computador parece brigar conosco. Quando isso acontece, nossa vida pára e prevalece o desespero em busca de socorro, o que nos causa uma saudosa lembrança do papel, hoje, tão desprezado.

No último sábado, senti falta da época retrógrada.  Por necessidade, tive que trabalhar e fiquei horas digitando uma petição inicial que trás em si urgência no protocolo. Embora acreditasse que meu trabalho estava sendo salvo, pois teclava CTRL + B a cada lauda digitada, por motivo desconhecido e alheio a minha necessidade, acrescido da minha ignorância técnica em informática, descobri que nada foi salvo. Mas tal descoberta apenas foi, por mim, percebida depois que fechei o arquivo. Assim, diante de meus olhos opacos, desacreditados e sem ação, vi mais de 05 horas de trabalho sendo jogadas ao vento.

Quando me deparei com esse imprevisto, senti o ímpeto de chorar, de espernear, de..., mas, nada resolveria. Então, com a cabeça cansada, chateada e com saudade da caneta e do papel que, embora muito mais complexos que a tecnologia, também não impunham no trabalho a qualidade hoje imposta pelas facilidades da modernidade, entreguei-me ao apelo da família.

Assim, desliguei o computador; permiti-me enxergar que era fim de semana, véspera de páscoa, e fui à Marataízes com fim de sentir o frescor do vento, de contemplar as belezas gratuitas de Deus e de compartilhar de momentos agradáveis com a família. Todavia, passado o domingo restaurador, embora ainda meio cismada com o amigo de sempre CTRL + B, teve início a nova semana e com ela o dever de refazer o trabalho perdido.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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