Minha indignação - Jornal Fato
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Minha indignação


Acordei com a notícia de mais um assassinato de mulher, desta vez de Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro. Como não a conhecia, busquei informações e tomei conhecimento de que se tratava de uma defensora dos direitos das minorias - negros, mulheres, gays, favelados e contra todo tipo de arbitrariedade cometida pela polícia.  Eleita com 46.500 votos, a quinta mais votada do Rio de Janeiro, de família simples da favela da Maré, formada em Sociologia pela PUC e com Mestrado em Administração Pública, Marielle era a voz dos excluídos dentro da política, eleita por capacidade e mérito.

Após conhecer sua biografia e admirar sua trajetória, começo a receber pelas redes sociais informações denegrindo a imagem da vereadora assassinada. Que fora casada com Marcinho VP, que engravidou aos 16 anos, que era usuária de maconha, que foi eleita pelo Comando Vermelho, que era radical de esquerda e por aí. Sua biografia não coincidia com as informações e notória a tentativa de manchar a história de vida de uma mulher, representante legal de milhares de cariocas, uma voz pública que detinha um mandato, e que fora brutalmente exterminada. Estranhei a falta de solidariedade das mulheres que repassavam a notícia, algozes da negra favelada, que nunca poderia ter-se destacado - não basta acabar com a vida, tem-se que acabar também com a reputação. Felizmente foram descobertos os mentores das infâmias, um deputado federal e uma desembargadora, que agora se dizem arrependidos pela atitude precipitada, e que serão devidamente processados e punidos.

O que me causa indignação, além do extermínio covarde, é a preocupação em tentar apagar a história de vida de quem lutou para mudar as estruturas injustas da sociedade. E as postagens seguem considerando excesso os atos de repúdio, no Brasil e no mundo, à covardia cometida contra a vereadora, que na noite do assassinato se reunia com mulheres da periferia, orientando-as na busca pelos seus direitos. Em nosso Estado a imprensa e os grupos de defesa cobram justiça no caso da morte da médica Milena Gottardi, cujo suspeito é o ex-marido, um policial civil. E não se reclama de exagero. Chega de dois pesos e duas medidas, todos os manifestos são válidos.  Abaixo o preconceito, a mentira, a difamação e quem os propaga.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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