À D. Terezinha, com amor - Jornal Fato
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À D. Terezinha, com amor

Esta semana foi marcada pelo Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola


Foto ilustrativa

Esta semana foi marcada pelo Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, criado a partir do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, quando um ex-aluno invadiu as salas e matou 11 crianças entre 12 e 15 anos e depois se matou.

Por causa da história do meu livro *E se fosse você?, que aborda bullying, gordofobia e racismo, dei algumas entrevistas. E todas elas reforçaram a certeza de que o bullying é extremamente tóxico e danoso à saúde física, mental e emocional. O atirador da escola de Realengo carregava uma dor tão grande pelas humilhações na vida escolar que aos 23 anos voltou e acabou com o seu sofrimento a balas, causando tristeza e impondo luto a muitas famílias, inclusive à sua, que deve ser apontada até hoje, dez anos depois, como parente de um louco assassino.

Então eis que a cada entrevista, um fato guardado na memória ressurge. E o dessa semana foi a lembrança de D. Terezinha, minha professora na Escola Rotary, que acolheu a boa aluna que reagia ferozmente a qualquer provocação. Tornou-se muito querida. Nunca me destratou ou chamou minha atenção, até porque sempre fui muito respeitosa com todos os professores. E até hoje não sei se ela conversou com a equipe pedagógica para tentar entender o que acontecia comigo. Sei apenas que tenho as melhores lembranças dela, que após muitas aulas combinou com minha mãe e me levava para sua casa.  Depois do Rotary, ainda briguei por uns bons anos, até o Polivalente Guandu.

Mas hoje penso seriamente que talvez essa reação imediata e a explosão a cada assédio tenha salvo a minha vida dos estragos irreversíveis. Porque se o bullying deixa marcas profundas, calar-se sempre deve provocar estragos irreparáveis como o do Rio e tantos outros que acontecem especialmente nos Estados Unidos.

Eu sobrevivi, mas não sem marcas. Então é importante falar sobre o bullying nas escolas, na família, nas igrejas, associações e coletivos. É urgente desconstruir a ideia de que temos que nos adequar aos padrões que não são nossos para sermos aceitos.

A lei que estabelece que as escolas tenham psicólogos e assistentes sociais deveria ser imediatamente cumprida. Evitaria que a prática do Bullying, racismo, homofobia, gordofobia e tantas outras nocivas destrua a vida das pessoas. Não podemos ficar indiferentes e os educadores precisam de apoio. É um passo aparentemente pequeno, mas que pode acabar com um sério problema na escola.

O mundo que queremos precisa ser construído a muitas mãos, especialmente daqueles que podem oferecer políticas públicas de qualidade, com ideias e ações que promovam igualdade, inclusão e cidadania plena.

Mas preciso confessar uma coisa. Vez por outra aquela menina atrevida, e até corajosa, faz muita falta.  Alô, alô, D. Terezinha, aquele abraço.


Anete Lacerda Jornalista

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