O infiel da balança - Jornal Fato
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O infiel da balança

Uma das minhas filhas tem causado desconforto entre alguns evangélicos com postagens nas redes sociais


Uma das minhas filhas tem causado desconforto entre alguns evangélicos com postagens nas redes sociais. Sei que há servos fiéis e justos cumprindo o IDE de Jesus, mas os mercenários e canalhas têm se destacado no mundo eclesiástico e político.

Até penso em chamar a atenção dela, mas logo desisto. Lembro-me da forma como foram criadas, para encarar de frente todos os problemas, mesmo os provocados por poderosos e corruptos líderes religiosos. Definitivamente não foram criadas para se acovardar. E são jovens ensinadas a crer no Deus que é amor.

Dentro da igreja vivenciaram o pior do machismo, quando "homens de Deus" se uniram para acobertar mal feito de um "ungido do Senhor", para não escandalizar a denominação. É a igreja que parece, mas não é. Às custas do sofrimento do rebanho, dá-se fôlego aos falsos profetas, que têm no período eleitoral uma época fácil para ganhar dinheiro. 

Um, por exemplo, fechou compromisso com dois candidatos a deputado estadual, ganhou dinheiro de ambos e pelo jeito não pediu voto para ninguém. Esse mesmo falso profeta teve um cargo com alto salário e gratificação na Prefeitura de Cachoeiro, há uns oito anos talvez, mesmo que tenha ido para o exterior poucos dias depois de ser nomeado. Foi "pregar o evangelho". Claro que com a complacência do então prefeito.  Só a misericórdia. E deve estar por aí falando contra a corrupção.

Não fosse a denúncia de um jornal local, continuaria ganhando seu salário com dinheiro público, mais os dez salários da igreja, casa, combustível e outros penduricalhos, na maior cara de pau. Então quando vejo algum discurso dos "santos" evangélicos, nem penso em recomendar à minha filha que se cale. Só a previno de que tudo tem consequências. Que estar alinhado aos hipócritas é mais vantajoso, mas violenta a alma. E para fazer a coisa certa paga-se alto preço. E que há homens verdadeiramente comprometidos com os ensinamentos do Senhor. E ela sabe disso.

E para que não haja dúvidas, vou compartilhar uma coisa. Os fiéis creem mesmo que quando votam no candidato recomendado pelo pastor, estão apenas exercendo o sagrado direito do voto. Não mesmo.

Certa vez, numa disputa acirradíssima para uma prefeitura da Grande Vitória, dois candidatos queriam o apoio do mesmo pastor, conceituadíssimo no meio evangélico. Negociação vai, negociação vem, eis que o preço pedido pelo "homem de Deus" foi acima de R$ 200 mil e um concorrente não teve como pagar e perdeu o precioso apoio.

Então, queridos irmãos. Seu voto é de graça. Mas tem muita gente ganhando dinheiro, e muito, além de emprego para mulher e filhos, bem como outras benesses que jamais beneficiarão a igreja ou seus membros ás custas de seu inocente apoio. Mas não se espantem. É mesmo o final dos tempos. O que há de pior e sombrio já está aí para quem quiser ver. 

Viva a democracia que nos permite desfrutar a diversidade, ultimamente de forma bastante desrespeitosa, infelizmente.  E abaixo os hipócritas, que se aproveitam da eleição para usar o santo nome de Deus em vão. E lamento pelos que rompem amizades em período eleitoral. Pelos bem nascidos que perdem a elegância e se igualam aos "da ralé" que desprezaram a vida toda em nome da política. Que triste.

Quanto às minhas filhas, que não se acovardem nem percam a fé. Não há perfeição na igreja, porque ela é composta de seres humanos. A torcida é para que os canalhas oportunistas travestidos de pessoas de bem sejam desmascarados e percam espaço, para que o verdadeiro evangelho possa florescer e dar bons frutos. E que o cristianismo genuíno resista bravamente aos hipócritas e fariseus. Que Deus nos ajude.


Anete Lacerda Jornalista

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