Solitude e Solidão - Jornal Fato
Artigos

Solitude e Solidão

psicanalista enfatiza a necessidade, e o direito, que nós temos de estar sozinhas


Assisti um vídeo da psicanalista Maria Homem recentemente em que ela fala uma palavra que me é pouco comum: solitude, que é a boa convivência consigo mesma em tempo integral, mesmo que haja também plenitude em estar acompanhada. Pelo que entendi, é se dar o direito de estar só, sem mágoas ou sofrimento e sensação de abandono. É se escolher como a melhor companhia.

A psicanalista enfatiza a necessidade, e o direito, que nós temos de estar sozinhas.  Afirma que este é um desejo legítimo que provocará a próxima revolução bem sucedida. A primeira teria sido, segundo ela, a revolução feminista.  "A mulher não precisa mais estar em grupo ou em dupla, mas pode assumir a vontade, o desejo de ficar sozinha onde quiser".

Outro ponto abordado é o fato de sermos sós, e de nosso corpo ser nossa primeira e última prisão. Nascemos (nunca vi ninguém nascer só, mas tudo bem) e morremos sozinhos, mas que isso não necessariamente precisa trazer sofrimento e dor. Maria Homem destaca que esse embate entre corpo e alma, corpo e espírito, essa mágica, essa conexão, é uma experiência individual. "O caso é que só eu vivo a minha experiência. E a gente não precisa supor que para viver bem precisemos estar juntos de alguém".

Ressalta o fato de que até recentemente as pessoas queriam parceiros para o futebol, para o boteco e para outros lugares, até para o banheiro. As mulheres sempre queriam uma amiga por perto. "Hoje, mais do que nunca, isso mudou. Elas perceberam que é importante pensar pela própria cabeça, sabendo de antemão que o real pensamento é profundamente solitário.  Não é fácil, mas possível e escolha cada vez mais comum".

Em contrapartida, destaca, há o comportamento e fantasia delirante de manada. "É ele que faz os regimes totalitaristas, o fascismo, o nazismo, a loucura de todos os gêneros e lógicas de alienação que tiram a singularidade e individualidade desse sujeito, que não pensa, não desenvolve ideias, mas faz uma repetição de um jogo neurótico de espelhos, que é replicado pelos membros da manada, que precisam estar junto para evitar o vácuo atroz da solidão".  Quando manadas, seríamos

a "legião de imbecis" de Umberto Eco?

Acho que instintamente e por acaso, sempre fui mais solitude. Já tive dolorosos momentos involuntários de solidão. Mas com certeza nunca fui manada. Sempre pensei, propus e discuti ideias, sempre priorizando as que conduzem ao bem-estar coletivo. Mas se entendi o conceito, estar só comigo mesma é, ou pode ser, reenergizante. Faz bem para o corpo, para a alma e para o espirito. Se as minhas experiências são pessoais e intransferíveis e eu sou minha melhor companhia, tenho muitos motivos para comemorar. Vivas!


Anete Lacerda Jornalista

Comentários