Ano Novo - Jornal Fato
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Ano Novo


Quando dei por mim, o relógio marcava meia-noite e, despercebidamente, o tempo escapou, entre um piscar de olhos, e os dedos das mãos. O ano que se foi deixou seus rastros e aprendizados. Desde seus albores, mostrou-se educativo. Cresci muito no ano, desfalecido. Recobrei conceitos, a tanto negligenciados. Abri a porta da minha casa, e deixei que adentrasse o sol. Eis o sol dos dias, dos dias em que me conheci mais, e aprendi mais. Como Bilac, escutei estrelas. Singrei pelo oceano das letras. Destranquei sentimentos e, então, senti, pungentemente, a vida, por um outro viés. Olhei mais para o céu, e auscultei mais os pássaros, de madrugada, em suas primeiras algazarras, no limiar dos dias que, ao presenciar e vê-los, diante de mim, passei a abençoar os minutos seguintes, e toda sua jornada. Desconjurei tudo que não tivesse aparência de amor, e as cores do perdão. Foram momentos rápidos de meditação, entre fogos e pessoas que, festivamente, trocavam abraços. Então, mentalmente, enquanto agradecia o milagre da vida, pedia sua multiplicação. Que venham, portanto, os anos, os amigos e os sorrisos.

 

 

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Que mais deveria ter feito?

Quantas vezes me perguntarei ainda?

Menino, entre as ruas e as aleutas, naveguei, fui rei. Busquei!

 

Depois cresci, e nunca mais me enxerguei.

A cada volta do ponteiro, sincronizava, no escuro, aquilo que não via, mas perseguia, e na busca rotunda, a paisagem da literatura, passei à certeza, de que a vida se transforma, a cada livro, lido. Era lindo!

 

Eis, então, a poesia. Como trigo, da farinha rara, dando aso ao espírito, como sorte, a varrer o opróbrio, para fora de cada casa, a fazer o fermento.

 

Que fazer, para viver, que pedem? Para viver, precisa fazer o pão, então, após germinar cada mão correta, em que estará a caneta. Aquela, por certo, será a que escreves. Não se demore! Avante, vamos.

 

Levanta poeta, e busca o que se vê, como o fogo. Senta, e sente. Se aquece. Aguarda, calmamente, a lenta letra e os provérbios, aos poucos, e escreve...

 

Mas não cometa impropérios iconoclastas, nem histéricos alaridos, ou receba óbolos sórdidos. Não. Nem o estupor clássico, a macular a forma. Procure amor, em cada verso turvo, limpa-o, e seu aroma, revelara a descoberta,

 

Então a busca se concluirá, de vez, e unicamente, será tua a fruta. E aquilo que não vias, lhe será descortinado, atrás da árvore imensa, em que tremula a bandeira, renascida nos teus poemas.


Giuseppe D'Etorres Advogado

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