Batalha em prol da vida - Jornal Fato
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Batalha em prol da vida

Os percalços até a cura são enormes, especialmente no guerreiro central que enfrenta, na própria carne, as agressões do tratamento


Faz uns dias, li a seguinte reportagem:

"Inca diz que expectativa é de 1,2 milhão de novos casos de câncer no país entre 2018 e 2019" 

Em cada 10 casos, três estão relacionados a hábitos como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade e exposição excessiva ao sol. 

Há dois anos, um cunhado entrou no rol dessa estatística, mas está curado. Já vi vários queridos acometidos dessa doença. Esse ano a "sorte" alcançou minha mãe, que está no auge da luta contra o câncer, mas não está só: a família, os amigos e o próprio Deus estão juntos dela no enfrentamento dessa batalha. Afinal, não há sinônimo melhor para o combate ao câncer que batalha, pois seu enfrentamento impõe um enorme esforço físico e espiritual com fim de vencer a guerra cuja vitória alcança-se com a cura. Mas, minha mãe foge a estimativa da reportagem, pois nunca fumou, nunca bebeu, não era sedentária e tampouco obesa.

Os percalços até a cura são enormes, especialmente no guerreiro central que enfrenta, na própria carne, as agressões do tratamento, especialmente, da quimioterapia. Mas também os que estão próximos, os que amam, são bombardeados e tentam encontrar alternativas para amenizar os reflexos do combate no soldado principal.

Como uma das auxiliares da guerreira, minha mãe, que enfrenta, com admirável força física, emocional e com grande fé, a batalha que a vida lhe imputou, tenho há quase dois meses frequentando, de tempo em tempo, o setor de oncologia do Hospital Evangélico.        

Nesse local conheci muitas pessoas especiais, muitos combatentes que se mantêm fortes e de pé, mesmo quando bombardeados. Conheci também soldados enfraquecidos e quase desistindo que, de repente, encontram forças e se erguem novamente. Mas, ainda vi partir guerreiros já muito fadigados e, mesmo esses, permanecem vivos junto do Pai.

Encontrei ainda a solidariedade, a compaixão, o amor ao próximo e a fé em Deus, sentimentos e atitudes hoje raros na sociedade.

Certo dia, enquanto acompanhava minha amada guerreira, o ambiente se alegrou com um grupo que chegou sorrindo e trazendo várias guloseimas para partilhar no café da manhã, chamado "café solidário". Os acompanhantes, e os soldados em melhor estado de saúde, esbaldaram-se com salgados, pães, café, leite, suco, bolos, etc., e sorrisos. A alegria contagiou o ambiente!

O café solidário me revelou o quanto condutas simples e humanitárias podem levar vida onde a morte pretende reinar; alento onde a dor tenta prevalecer e a alegria onde a tristeza e a solidão permanecem em alta.

Se é verdade que a expectativa é pelo aumento dos casos de câncer na sociedade, necessário que estejamos preparados para o enfrentamento de uma guerra, mas ninguém consegue vencer sozinho. Nesse tipo de batalha, valor algum tem as armas, mas são imprescindíveis: o amor; a compaixão; o desapego; a doação, ... Somente rodeado de bons sentimentos, o emocional encontra forças para superar os baques físicos que as batalhas rumo a cura impõem.

Igualmente necessário que nossos legisladores tenham a sensibilidade de vedar alimentos cancerígenos e de promover leis que facilitem o acesso aos tratamentos dignos a todos os cidadãos.

Diante do alarme trazido pela reportagem citada, importante lembrar que se aproximam os meses "outubro rosa" e "novembro azul". Assim, mais que vestir as camisas contra o câncer de mama e de próstata, ou mais que compartilhar mensagens no facebook, necessário que vistamos a alma de compaixão para enxergar que hoje são eles, mas amanhã poderemos ser nós, ou os nossos. Deste modo, que saibamos amar, ajudar e defender os direitos de todos que enfrentam essa árdua batalha em prol da manutenção da vida.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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