Cachoeiro: Patrimônio Histórico - Jornal Fato
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Cachoeiro: Patrimônio Histórico

O centro de Cachoeiro vem sofrendo dupla perseguição: por parte da natureza e por parte de quem (serviço público) deveria cuidar melhor dele


O centro de Cachoeiro vem sofrendo dupla perseguição: por parte da natureza e por parte de quem (serviço público) deveria cuidar melhor dele. A chuva que inundou diversas cidades já consolidadas há séculos em diversos países europeus, também já consolidados, tem sido constante em Cachoeiro, principalmente no centro - vide inicio dos anos de 2010 e 2020, que arrasou principalmente o comércio instalados nos imóveis do centro, à beira do Rio Itapemirim. Essa a perseguição da natureza atuante.

Já quanto ao centro histórico de Cachoeiro, que coincide com o centro atual e adjacências, onde não se pode mais construir, dada a proximidade das margens do Rio, é flagrante que ele vem se deteriorando, vez que não se pode fazer nos antigos imóveis "isso e aquilo", não só por conta do rio. É que a História há de ser conservada por aqui, em homenagem aos antepassados que fundaram a cidade e em favor da preservação de patrimônio histórico tão bonito, no qual se destaca o prédio do Bernardino Monteiro, bem como dezenas de casas centenárias ou quase, desde a Rua 25 de março à Rua Bernardo Horta, no Guandu, e especialmente os imóveis da Praça Jerônimo Monteiro.

Nesse espaço territorial está boa parte dos imóveis oficialmente históricos da cidade, além de outros que merecem tombamento e ainda não o foram - e só não foram derrubados porque o "fiscal" Rio Itapemirim, dos mais sérios deles, não permite, vez que atrás deles viriam grandes prédios "agora" inundáveis, hoje incompatíveis também, com a movimentação do trânsito.

Mas não há que se falar apenas no passado. Há que se falar no futuro que aproveite do que restou do passado. É aí que deveria entrar um certo e maior cuidado do poder público com o que nossos antepassados nos passaram. Não há programa sério sendo executado, em favor da preservação de nossa memória. Quando há alguma coisa por parte do poder público, nessa área específica, são só recordações teóricas do que existe e que deveria se aproveitado, mas não é. Em coisa pública, sonhar não só não é suficiente como pode ser maneira de matar sonhos - se sonhar é bom, não executar os sonhos fica pior, se os sonhos não saem da memória e do coração para as coisas práticas da vida.

É preciso ter coragem e ação públicas, que têm faltado por aqui, no sentido de se discutir nossa realidade, de se discutir até onde podemos interferir nas coisas do passado, com alterações pequenas, pacíficas e reais e não demasiadamente agressivas.

O arquiteto Claudio Bernardes, em sua coluna na Folha de São Paulo, a propósito dessas interferências na memória construída, relembra a Convenção de Granada (muito prazer em conhecê-la, digo eu): - Entre as políticas acordadas por seus signatários, estão os compromissos para promover "o uso de propriedades protegidas à luz das necessidades da vida contemporânea" e "a adaptação, se for o caso, de edifícios antigos para novos usos". E conclui o arquiteto: - "Abordagens adequadas na forma de preservar podem ser a solução para perpetuar nosso patrimônio histórico e paisagístico, mantendo vivos os edifícios, vibrantes os seus entornos e integrando-os de maneira inteligente e eficiente à operação e ao funcionamento das cidades".

Enfim, vamos discutir com honestidade o centro de nossa cidade, sem abusos de ganhar dinheiro de qualquer maneira, e sem a falsa impressão de que não se pode mexer em nada dele, desde que com seriedade e respeito?

Mas o melhor é prosseguir na leitura desta página.

Ler o que Flavia Cysne fala sobre Cachoeiro.

 

Flavia Cysne fala sobre Cachoeiro

Diz Flavia: - "Sou apaixonada por esse visual. A beleza do Cachoeiro antigo, para mim que trabalho com turismo, é a melhor proposta para o centro. Claro que com um bom projeto de transporte coletivo e trânsito. Minha imaginação recorre ao bondinho, árvores com as copas quadradas, patrimônio histórico restaurado e valorizado, outros adequados... um visual de 1950. Mas pode ser anterior ou posterior. Associado a uma programação de valorização à cultura.

Sei que tem muita gente capaz que cuida disso, mas não vejo uma proposta de melhorar o aspecto visual da cidade. Me entristece a Beira Rio com os fundos das casas todas voltadas para a maravilha que é o Rio Itapemirim. As casas quadradas nos morros que ilustram a cidade. Minha vontade era um programa de incentivo para que todos se adequassem a essa proposta. A solução é tombamento como Sítio Histórico. A exemplo de Muqui e São Pedro do Itabapoana, Mimoso do Sul. Nossa região toda tem essa característica. Brasil Império até esse período áureo.

Sempre penso em Cachoeiro como na França, Paris é um bom exemplo, só para ilustrar. A preservação do antigo e a criação de espaços modernos. A expansão do Museu do Louvre é o melhor exemplo.

Será que é possível? Sonhar não paga".

 

Arte de Humberto Poubel - Centro de Cachoeiro

 

Praça Jeroimo Monteiro - Foto: William 1960

 

 Coleção Gilson Carone, Prç J Monteiro, 1972


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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