Carta ao Ano-Novo - Jornal Fato
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Carta ao Ano-Novo


Querido Ano-Novo, 

Nem sei se você é de verdade um novo ano. Nosso calendário não é assim tão confiável e ainda tem esse negócio de horário de verão, além do fato dos chineses comemorarem a virada do ano deles apenas em fevereiro. O que eu sei é que depois da meia-noite, provavelmente, não acontecerá uma mágica que fará dos dias e das noites novinhos em folha, sem as boas e as más cargas que trazemos. Inclusive alguns boletos permanecerão aguardando pagamento. Mas, como todos precisamos de um descanso de 2018, vamos acreditar no que vai ser diferente, sabendo que o diferente depende, na maioria das vezes, apenas de nós. 

Passei muitos anos fazendo listas de promessas, chegando ao fim de cada um deles frustrada pelas não cumpridas, e assumindo apenas parte da culpa para não ficar tão pesado. No final de 2016 eu decidi não colocar projetos no papel, mas encher minha alma de uma absurda coragem. E parti para 2017. 

De posse dessa coragem assumi que minha filha já trilharia o caminho dela independente das minhas próprias escolhas, e que toda a culpa que eu carregava por ter dito a ela algum não ou por alguma ausência, era uma culpa que eu carregava por nada. Ela já entendia que, humanos que somos, comentemos falhas. E já tinha me perdoado. Tomei consciência de que criei uma filha que seria sempre a minha criança, porém madura e livre, consciente de que sempre estarei aqui, não importa qual caminho que ela escolher. 

O que mais? Mudei para casa da minha mãe. Quando se está infeliz e ainda há o refúgio do colo de alguém, corra para lá. Fiquei alguns meses por ali reorganizando minha vida e minhas ideias. Enquanto isso, mudei radicalmente a minha rotina voltando para a faculdade, retornando para o meu antigo local de trabalho, fazendo novos amigos, reconhecendo os amigos que permaneceram comigo e tentando ser uma pessoa melhor, a fim de que minha existência terrena não fosse em vão. 

Quando 2018 chegou eu já não tinha tantos planos, porque minha coragem me colocou na execução deles. A não ser as muitas dietas, porque ser feliz engorda, eu tinha apenas alguns sonhos, porque são sempre necessários. O que eu precisava mesmo era continuar no caminho que eu estava. Eu já não queria muito mais coisas. Na verdade, queria menos. Menos móveis, menos roupas, menos sapatos, menos gente chata, menos culpa. Queria o necessário, e o necessário nunca me faltou. 

Então fecho o ano com saldo positivo, cheia de novidades e muito feliz. Em 2018 o que eu fiz foi realizar. Casei com o amor da minha vida, formei no curso dos meus sonhos, firmei laços de amizade, votei em quem eu acreditava que seria melhor, viajei, estudei, escrevi e aprendi receitas incríveis. 

Assim, só espero que você não me decepcione, e que 2019 seja cheio de coisas lindas. Prometo fazer minha parte. Quero conhecer lugares, ouvir boas notícias, aprender novos pratos e aperfeiçoar o perdão. Quero que esse frio na barriga não acabe, e que minha coragem continue tamanha, a ponto de contagiar e inspirar a todos que precisem dela. Partiu?


Paula Garruth Colunista

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