Conexão Tijuca-Harlem-Japeri-New Orleans - Jornal Fato
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Conexão Tijuca-Harlem-Japeri-New Orleans

Sempre que revisito a obra de Ed Motta (e quero me referir, especificamente, à "Minha Casa, Minha Cama, Minha Mesa"


Sempre que revisito a obra de Ed Motta (e quero me referir, especificamente, à "Minha Casa, Minha Cama, Minha Mesa", que, desde ontem, tenho ouvido à exaustão-fixação que me é cara e singular), dentro do meu peito é reafirmada aquela veeeelha máxima - prenhe de razão, óbvio - segundo a qual certos músicos constroem universos a partir de suas músicas.

De maneira que, com o passar dos tempos, das faixas!, esses universos se integram aos nossos. Ou nós que, "num disco voador", somos abduzidos pra tais universos?

Já contei isso antes, mas Ed faz parte da playlist da minha vida desde quando eu, um molecote melequento e chorão de seis anos de idade, lá no subúrbio do Rio, achava ele parecido com meu primo Alex, o Xande, do Irajá. (Melequento eu deixei de ser; desconfio, né... Já suburbano e, principalmente, chorão, ainda sou; taí ela, que é meu axé, minha razão de viver, minha pétala de bem-querer, a tinta das minhas palavras, que não me deixa mentir.)

Sei que, de algum modo, as canções de Ed Motta, toda aquela sonoridade Rhodes conexão Tijuca-Harlem-Japeri-New Orleans, também vão norteando meus caminhos. Tais quais placas de trens. Ou feito conselhos de um primo mais velho. Acho que, por isso mesmo, sonhei de ontem pra hoje que Ed e eu posávamos pra uma foto com minha tia-avó Lucília (irmã de minha Vó Zefa), cujos filhos homens, eu tinha pra mim, talvez fossem uma espécie de The Jacksons de São Gonçalo.

 

...OH, NEM ELE E NEM EU 

Iê!

Oh, lá do alto cai o balão,

coisa que eu não sou, não.

Desta planta eu sou raiz,

foi assim que eu me fiz.

Mesmo indo à Santa Sé,

se tem medo não tem fé.

E coragem não é abuso,

mas fazer dela bom uso.

Por ousadia ou por teima,

não há nada que eu tema,

porque meu pai Oxaguian

vai garantir meu amanhã.

Pois sua guerra termina

só quando ele determina.

Derrota nunca o venceu...

...oh, nem ele e nem eu,

camará!

QUEM SABE O VALOR

Iê!

Quem sabe o valor da terra

é só nela quem plantou.

Quem sabe o valor da flor

é quem por ela se encanta.

Quem sabe o valor da reza

é quem ao Orum cantou.

Quem sabe o valor da dor

é quem a fé lhe imanta.

Quem sabe o valor da guerra

é quem enfim a suplantou.

Quem sabe o valor da cor

é quem a luz lhe for tanta,

camará!

 

Felipe Bezerra

Email: [email protected]

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