Dependência química - Jornal Fato
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Dependência química

O uso da força parece infrutífera, precisamos rever estratégias de combate


Um dos assuntos mais complexos da sociedade atual. Após anos de tentativas no Brasil, e principalmente pelo governo americano, com o uso da repressão para diminuir número de usuários, tráfico e dependentes, chegamos à conclusão que a guerra parece perdida. O uso da força parece infrutífera, precisamos rever estratégias de combate: separar o dependente (doente) dos traficantes (bandidos). Até agora, misturamos todos. Ficamos perdidos: Sociedade e Governo. Precisamos avaliar o 3º Levantamento Nacional Sobre Uso de Drogas pela População Brasileira (Lnud), realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que está no centro de um impasse entre governo, que não aceita os resultados, e a comunidade cientifica, que valoriza a tradição e reputação da Fundação. A pesquisa alerta para números crescentes de dependência em opiáceos - analgésicos potentes comprados ilegalmente; apesar de preocupante, os dados não confirmam que o Brasil viva "epidemia de drogas". Em resumo a Fiocruz mostra: os opiáceos sem receita são mais usados que o crack; álcool é a droga mais consumida no Brasil; o uso do cigarro está em queda nas últimas décadas; a maconha é a de maior uso entre as drogas ilícitas; cocaína é a segunda em uso entre as ilegais no país e o crack apesar dos seus usuários serem assustadores aos nossos olhos, pela maneira que ocupam nossas ruas, não tem número alarmante para se considerar uma epidemia. Os dados da pesquisa, apesar de não confirmar nossos sentimentos, aquilo que nos incomoda nas noites do centro de uma cidade, principalmente com os usuários de crack, apesar dos números não confirmarem, nos deixa a dúvida do por que nos sentimos tão angustiados com o ocupante de ruas? Será apenas pelo medo da violência? Por que o sentimento de alivio quando dependentes são isolados da sociedade por meses?  Retorno ao uso ilegal de analgésicos (opióides) há alguns anos um grande problema nos Estados Unidos e crescente em nosso país; retorno à utilização de álcool, mais ainda em nossos adolescentes, bebem cada vez mais cedo, com as mulheres ultrapassando os homens, devendo-se pensar em projetos de regulação da propaganda de cervejas em nosso país, assim como feito com os cigarros, onde ocorreu a redução de uso e danos por essa droga.

No Brasil, temos uma nova lei de enfretamento às drogas. A lei fortalece comunidades terapêuticas - internação de longa permanência. Uma lei baseada no modelo de enfrentamento, com internação compulsória, forçando a abstenção, um modelo que poucos países no mundo acreditam na atualidade. Temos a alternativa terapêutica com redução de danos, em que o paciente é induzido a parar com o consumo apoiado em Caps-Ad - atenção integral com médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde e internação de curto tempo nos surtos psicóticos. Qual melhor alternativa? Não sabemos. Na verdade, a melhor é a prevenção. Colar em nossos filhos, netos, sobrinhos... Até os seus 16 anos de idade. Apostar no carinho e companheirismo. Porque depois da dependência...

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Sergio Damião Médico e cronista

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