Dona Eloíza - Jornal Fato
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Dona Eloíza

Mulher discreta, sútil e, ao mesmo tempo, forte feito rocha diante do dilema: devo amar o próximo?


Foram três dias de luto. Assim, decretou o prefeito. E todos calaram-se. Primeiro, os pardais e as árvores. O vento, se calou. Depois as flores. E um silencio abateu-se sobre a cidade que, pequena, rendia, cabisbaixa, seu respeito à alma grandiosa de dona Eloíza Valadão! Mulher discreta, sútil e, ao mesmo tempo, forte feito rocha diante do dilema:  devo amar o próximo? Não hesitou. Fez de sua vida a própria resposta. E amou! Amou demais e sem qualquer alarde. Através de trabalho e empenho diuturnos, realizados sempre, da melhor forma, com alegria e silenciosamente, a espargir consolo e amparo. Nessa seara, sabemos, teve uma ideia genial, para ajudar entidades filantrópicas, dedicadas ao auxílio, a ampararem o próximo, que tão boa, tal como a própria autora, tradicionalizou-se, e ninguém, nunca, ousou extinguir. Daí, para sempre, passamos todos a celebrar e ir a "feira da bondade". E bondade é algo tão bonito, que rima com Eloíza, e o sorriso largo. Sua franqueza comedida. Seu profundo amor à família. Talvez, nos dias que se seguirão, tenhamos a exata noção do quão belo pode ser o ser, ou tenha sido.  Eu mesmo, quando mais jovem, presenciei uma miríade de gestos fraternais, belos. Em seu velório, onde estive, pessoas de os matizes, principalmente os mais humildes. Gente de todos os rincões do município, compareceram, para o derradeiro olhar, sobre a face lívida. As penúltimas palavras, ditas baixinho, enunciando o agradecimento e a reverencia à eterna primeira-dama. De qualquer maneira, é como um verso de Gil, posto na letra de "Drão": ...tem que morrer para germinar...porque o amor é como um drão..."Prossiga, dona Eloíza, a senhora germinou amor! Fara dessa lembrança um aprendizado para as futuras gerações, ao descobrirem que pisam o mesmo chão. E para onde quer que vá, decerto o céu dos bons. Sente-se na primeira fila e, tal como aqui embaixo, dê em cima, a São Pedro e os anjos, seu melhor presente, a coruscante gargalhada. Vá, em paz! 

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Onde vivem os anjos?

De que parte, partem, espargindo, assim, suas asas. São anjos, arcanjos e querubins! 

Decerto, no estreito elo que se consuma, entre a carne de plumas, dentro das meninas e seus ventres alvos, negros, pardos e amarelos. 

Ali, acima, embalam a fé feita de corpo e vertigem. De olhares me olhando aos pares, com olhos que me querem.

E, depois, me molham, com a água bendita que suscitam, no infinito prazer que há, em vê-los, em cada canto da face, na aurora de um osculo que não passe, para que eu goze tanto quanto, perdure o tempo delirante, do grito agradável, de quem se aprisiona, a um grilhão desejável.


Giuseppe D'Etorres Advogado

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