É na crise que o verdadeiro líder aparece - Jornal Fato
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É na crise que o verdadeiro líder aparece

O que significa, na prática, olhar para frente e marchar debaixo da tempestade


Por Valter Pieracciani (Sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, consultoria especializada em inovação)

 

Crises, todas elas, indistintamente, são momentos de intensa aprendizagem. Nesses períodos, e já passamos por vários, sentimos medo, desânimo, desejo de ficar parado esperando que tudo passe. Essas são reações naturais, instintivas, porém, inadequadas. Quanto mais profunda a crise, maior a necessidade de deixar de lado o modo como agiríamos naturalmente e passar a fazer o que de fato precisa ser feito: gerenciá-la com competência e, sobretudo, lidar bem com as mudanças que ela demandará de nós.

O que significa, na prática, olhar para frente e marchar debaixo da tempestade? Aqui vão algumas das práticas que temos implantado nas empresas que buscam nosso apoio nessa caminhada. Esperamos que sirvam de inspiração para você e para a sua equipe.

1) Embarque no helicóptero

Isso significa elevar a perspectiva e olhar do alto para a crise e para as oportunidades competitivas que nascem dela. A competitividade não se resume à dimensão material e muito menos ao fluxo de caixa. É bem possível que as saídas estejam por perto, porém sejam invisíveis para você, que se sente atolado resolvendo o caixa. Observar os concorrentes e as mudanças de hábitos dos clientes pode abrir rotas muito interessantes. Essa prática melhora a qualidade do diagnóstico e possibilita enxergar alternativas para se recuperar mais rápido do que as outras empresas. 

2) Identifique e use suas forças

O que sua empresa oferece naturalmente e com excelência? O que lhe assegura a preferência do cliente e esteve sempre presente nas melhores vendas? No que vocês são bons? Esses pontos devem ser potencializados em uma crise. Um ditado americano diz que, em tempos ruins, só o que é realmente bom vende. Pense no que faz sua empresa fechar os melhores negócios e turbine essa especialidade.

3) Preserve a moral das tropas

É a sua equipe que fará a diferença agora. Não só os gerentes. Todos, independentemente do nível hierárquico, podem ajudar. Para que isso de fato ocorra, invista muito na comunicação. Essa sensibilidade por parte do líder é vital num momento em que os times estão assustados, o que tende a desviar o foco do cliente e a gerar ações de autopreservação. A comunicação se deteriora e a produtividade, que deveria subir, acaba caindo sensivelmente nesses períodos. Daí a importância de escutar mais do que nunca o que cada um tem a dizer.

4) Não pare a inovação

Ela será essencial na retomada. Quem não tiver novos produtos e novas soluções para oferecer não sairá mais da crise, mesmo quando as coisas melhorarem. No entanto, vale rever o portfólio de projetos de inovação. Estabeleça os filtros certos para um período como esse e faça uma nova seleção dos projetos que realmente seguirão. Se não cuidar bem disso, há grandes chances de gastar recursos valiosos com ideias que não decolarão e nem ajudarão a superar as dificuldades do momento.

5) Inove nas outras direções

Inovar é mais do que lançar produtos e mudar processos de produção. Em tempos de crise é preciso pensar em como inovar no negócio, na forma como o cliente remunera o que sua empresa oferece a ele. Também é hora de inovar na gestão, ou seja, na maneira como estão organizados os recursos para atingir resultados.

6) Abra todas as portas

Normalmente somos induzidos a competir e isso significa fechar-se. Esconder o que faz e jamais pensar em compartilhar. Ledo engano. É na crise que é mais importante abrir-se. Pensar em alianças com fornecedores, com clientes, e, segure-se na cadeira, com concorrentes. Isso mesmo, competidores! Deixar de lado os preconceitos e racionalizar custos, dividir soluções e fazer mais com menos. Parar de procurar quem tem a solução para seus problemas e pensar em conversar e dividir soluções com quem tem os mesmos problemas que você. Certa vez, criando a logística de distribuição de uma revista, sugerimos fretar um avião e dividir os custos com o concorrente. Quase fomos linchados! "Vocês estão loucos?", disse-me o presidente da empresa em questão. "Queremos chegar antes dele à casa dos assinantes!" Dias depois consegui levá-lo ao aeroporto para ver que suas revistas embarcavam nas mesmas aeronaves de linha usada pelo concorrente.

Por fim, não se esqueça de que já passou por situações parecidas antes e, como das outras vezes, vai passar. Pense e atue para sair na frente.

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