O amor! - Jornal Fato
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O amor!

Amor, para Telemaco, é autopista, de mão dupla, uma vez que vai, deve voltar, em sentido contrário


Eu e o amigo Telêmaco, somos dados a constantes divagações filosóficas, em nossas prosas rotineiras. Da última vez, se bem me lembro, falamos sobre amor e receber amor. Debatíamos incessantemente e, a certa altura da conversa, despejou o amigo as magoas, e seu desencanto, a respeito de determinadas reações de descaso, de alguns, diante da recepção de amor, feitas com totais indiferenças, no tocante à troca, desse mesmo amor. Amor, para Telemaco, é autopista, de mão dupla, uma vez que vai, deve voltar, em sentido contrário. Retruquei, dizendo-lhe: - discordamos, amigo. Não concebo o amor comparando-o a uma pista dupla, de rolamento. Intrigado, Telemaco indagou: - de que forma então? Respondi. Amar, relembrando Drummond, é verbo intransitivo, velho amigo. Tantos poetas disseram o mesmo, compadre. Para amar, disparei, com um sorriso, não precisamos do complemento. Não. E assim, talvez seja esse o objeto de todo nosso sofrimento amoroso - esta expectativa! Para amar, basta que amemos, sem esperança de regresso do amor, que dispensamos, seja das mais variadas formas, porque senão, a meu pensar, com essa intenção, amor não será, mas barganha. Obrigação e sofrimento. O sofrimento de algo que jamais chegara! Assim, nos tornamos predadores e vítimas, que somos, dos próprios desenganos. Ame, prezado amigo, absurdamente. Porém, é você quem amara aquilo que ama. Basta. Será o suficiente para sua completude, inteireza e alegria. Nada aguarde. Nada espere. O amor, por si só se sustenta, e nos redime. Nos salva. Telemaco coçou um tanto o cocoruto e, olhando-me, fixamente, meneou a cabeça. Sorrimos, enquanto a noite caia, devagarinho, pendurando suas estrelas. 

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Meu coração anda por um tris.

E risco de giz a nuvem gris que me incomoda.

Retiro a corda da garganta, e canto.

Um canto imenso e mergulhado, dentro do coração que pensa, deveras, na primavera que desperta quando ama.

E de tal maneira incansável, meu coração me invade e me transforma, numa espécie de céu, em que habita.

Nada espero. Nada aguardo. O silencio completa o decreto de cada saliência, desse musculo, de onde desaguam versos mudos, caudalosamente.

 

 


Giuseppe D'Etorres Advogado

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