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Ontem, dia 15 de outubro, foi comemorado o dia do professor. Contudo, indaga-se: há o que comemorar?


Ontem, dia 15 de outubro, foi comemorado o dia do professor. Contudo, indaga-se: há o que comemorar?

Em busca da resposta conversei com uma professora aposentada, hoje com 80 anos, que, por muito tempo, percorreu quilômetros de bicicleta para ensinar a alunos do interior do Estado. Trabalhava por amor e, apesar do cansaço, tinha prazer em educar os alunos que lhe eram confiados pelos pais, pelo Estado e por instituições privadas.

Em determinado momento, ela me disse: "na época ganhávamos pouco, mas tínhamos valor. Se éramos mais duras na correção, os pais nos parabenizavam, pois queriam que os filhos fossem civilizados. Nessa relação de ensino/correção, como uma gestante, dei vida a muitos bons cidadãos de modo que, até hoje, encontro ex-alunos que me chamam pelo nome e revelam recíproco carinho e respeito. Alguns viraram empresários, outros médicos, advogados, empregados, autônomos e ainda há os que se tornaram pais e/ou mães sem uma profissão. Contudo, o mágico é que, ao olhar o homem ou a mulher de hoje, às vezes, consigo enxergar a carinha da criança de décadas atrás, o que me orgulha."

Conversei ainda com uma professora que enfrenta atualmente os desafios da sala de aula, mas o sentimento da profissão mudou bastante. Hoje parece que a necessidade do salário e o medo da agressividade de alguns alunos, em certos momentos, se sobressaem. Não raro, o professor precisa manter uma maior distância do estudante em busca do respeito e, apesar disso, precisa ser agradável, pois, para muitos educandos, bem como para muitas instituições educacionais, a educação se transformou em comércio e aluno passou ao status de cliente, logo, se contrariado, sente o ímpeto de ofender e, por vezes, de impor a demissão do profissional.

É bem verdade que ainda existem muitos professores ideológicos e amantes da profissão, mas também existe um desânimo impregnado em muitos educadores que perderam, ante o sentimento de desamparo, a felicidade no dia a dia da sala de aula. Contudo, o enfrentamento por trás do lecionar ainda tem seus encantos, ainda tem suas mágicas, mas também, por vezes, põe o educador de frente aos seus limites éticos e emocionais, pois este possui um cronograma a cumprir, metas a bater e alunos a seduzir sob risco de ser criticado por qualquer deslize e, com isso, perder seu emprego ou contrato.

Se não bastasse, embora existam leis específicas, complementadas por normas coletivas firmadas pelos sindicados dessa categoria profissional, é comum que professores trabalhem nos 03 turnos e em diferentes escolas para ampliar a renda, o que causa grande desgaste físico e psíquico, pois, nesses casos, ainda precisam trabalhar nos fins de semana, feriados e madrugada a fora preparando aulas, avaliações e corrigindo provas.

Além desse contexto já árduo, é comum que professores, não atuantes em instituições particulares de ensino, por vezes, ante a omissão pública na realização de concursos, sujeitem-se a contratos temporários que, por sua vez, só garantem o direito aos salários, décimo terceiro, férias e, quando buscam a justiça, ao FGTS dos últimos cinco anos trabalhados.

Assim, volta-se a pergunta: há o que comemorar?

Não sei se há o que comemorar, mas, por certo, há muito que melhorar, pois os professores merecem nosso respeito, reconhecimento e nossos parabéns. Assim, não poderia me omitir nessa semana sobre o valor que cada um dos educadores possui na reconstrução do nosso Brasil, país tão necessitado, nos dias atuais, de educação, de respeito, de ética e de princípios basilares outrora cotidianos, mas, hoje, em falta.  Todavia, essa reconstrução não é dever exclusivo dos professores, mas dos pais e da sociedade, pois ao professor cabe outras obrigações complementares.

Deste modo, faz-se necessário que, enquanto alunos, pais e cidadãos, possamos ajudar na reconstrução dos valores em carência para que o cotidiano da sala de aula volte a ser propício para a construção do conhecimento, pois, enquanto os professores precisarem ser pais, psicólogos, policiais e/ou vítimas, o conhecimento intelectual decaíra ainda mais e o Brasil se tornará a cada dia mais fragilizado.

Isso porque um país sem educação, vira terra de ninguém. E um profissional sem professor não existe e jamais existirá. Assim, apesar - e por causa - dos desafios, parabéns professores do Brasil...

 

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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