Três Heróis Cachoeirenses - Jornal Fato
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Três Heróis Cachoeirenses

É o caso desses três cachoeirenses, cujas histórias se confundem com a História de nossa terra. Todos eles são nossos contemporâneos


Herói, para mim, é aquele que mais se dedica às coisas de sua terra e do bem, do que a si mesmo. É o caso desses três cachoeirenses, cujas histórias se confundem com a História de nossa terra. Todos eles são nossos contemporâneos.

Falo do Professor Manoel Gonçalves Maciel, falo de Nelson Sylvan e falo de Evandro Moreira, que, marchando juntos, por décadas, dedicaram-se, a vida inteira, pelo melhor para nossa cidade. Estavam e está sempre com o olhar no futuro, muito menos no futuro deles, e muito mais no futuro da nossa juventude e da nossa terra.

Os três foram homenageados no dia 20 de maio, pela Academia Cachoeirense de Letras, no Centro Operário e de Proteção Mútua. Festa que dignifica, também, Cachoeiro e a Academia.

Com ligeiras modificações de atualização, os textos meus, nesta página, foram escritos em 2006, portanto há 13 anos. Se tivesse que mexer, mais, no texto, seria só para mais elevá-los - os três - aos céus. (O número desta Conexão Mansur, para mim, é um número mágico: 555).

 

MANOEL GONÇALVES MACIEL

O Professor Maciel nasceu em Alegre, em 10/06/1917, e se transportou de corpo e alma para Cachoeiro em 1930. Técnico de Contabilidade pela Escola de Comércio dos Herkenhoff, foi funcionário dos Correios (Chefe da Agência e Inspetor Regional).

Teve intensa participação em todas as áreas da sociedade cachoeirense. Entre tantas atividades, foi diretor de Cooperativa, Presidente do PTB, Presidente do Mobral, participante do Projeto Rondon, Professor do Liceu, membro da Academia Cachoeirense de Letras (cadeira nº 26), sempre na diretoria. Sócio do Instituto Histórico e Geográfico da cidade e do Espirito Santo, Cidadão Cachoeirense (1984), colaborador freqüente em jornais e revistas de Cachoeiro até as vésperas de seu passamento, que se deu em 28/07/2005, em plena lucidez. Era a memória da cidade.

Autor de obra fundamental sobre a História de Cachoeiro (Voltando ao Cachoeiro Antigo, vol. 1 e 2), que publicou com recursos próprios, tinha matéria escrita para outros dois ou três volumes. Não fosse o Professor Maciel, como não fossem dedicados historiadores do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro, nossa terra seria o deserto no passado.

Está na apresentação que escrevi para o volume 2 do seu "Voltando ao Cachoeiro Antigo", quando ele ainda vivia entre nós: "Professor Maciel, exemplo de coerência e persistência para nós que o conhecemos, para nós que convivemos com ele e o lemos ... Que as gerações posteriores possam se lembrar do esforço desse homem lúcido e estudioso que está na flor da felicidade, em seus oitenta e seis anos" (morreu aos 88).

Fosse possível resumir o Professor Maciel, resumiria dizendo (a) do extremo cuidado e carinho que ele tinha por sua família; (b) da monumental obra escrita que deixou e (c) do exemplo de dignidade, coerência, espírito público e capacidade, até o último momento de sua vida "disputando força e entusiasmo com os que mal atingiram a maioridade, que agora desceu aos 18 anos". O volume 1 do "Voltando ao Cachoeiro Antigo" se esgotou e o volume 3 está em condições de ser publicado.

 

NELSON SYLVAN

Nascido em Cachoeiro em 10/11/1910, filho de Pedro Sylvan e de Maria Thereza Sylvan. É das mais importantes personalidades de Cachoeiro. Sua marca principal, se homem desse porte pudesse ser enquadrado em uma palavra, foi a coerência. Foi político militante, sempre observador mordaz. Filiou-se ao integralismo em 1932 (o segundo a se inscrever) e manteve a crença em suas propostas. Não se deixou contaminar pelo extremismo. Fácil vê-lo discutir e oferecer propostas para o futuro de Cachoeiro. Nunca perdeu as esperanças e nem a verve. Exemplo de homem digno, soube dignificar o que defendia: o bem. Avis rara. Dos primeiros alunos do Liceu (1922) antes dele se chamar "Liceu" (1936). Trabalhou na Cia. Central de Força Elétrica (atualmente EDP). Foi membro da Academia Cachoeirense de Letras (cadeira nº 36), especializou-se em compor trovas. Tem muitas delas deliciosamente picantes, apreciadas e bastante cabeludas, as que não se contavam nos salões de outrora.

Em 20/05/1934, 4,25 h da madrugada, façanha nunca igualada, com três amigos (Pedro Sampaio, Darcy Marques e Murilo Freitas), foi de Cachoeiro a Campos, de bicicleta. Jornada de 19 horas. Voltou no dia 22 e bateu o próprio recorde - 16 horas. (deve ter sido saudade de Cachoeiro).

Membro do Instituto Histórico e Geográfico. Presidente do Centro Operário e de Proteção Mútua, desde 1969. Sempre viveu ao redor da Rua 25 de março e viu passar por ali boa parte da História de Cachoeiro. Criança, foi contemporâneo de Rubem e de Newton Braga, que também moraram ali.

Dele, eu disse em discurso no 1º/05/2005, e ratifico: "Correm os anos, e correm rápidos. E na sua corrida, que bom anunciar, mais cresce o admirável homem, que foi tudo e é tudo. Mais cresce esse portento, em linha reta, compondo o seu papel. São poucos os homens como Nelson Sylvan". São de sua lavra e é retrato dele os versos: "Mas o poeta, em sua lida, / apresenta, na verdade, / uma mente esclarecida, / sem esta de muita idade...".

 

EVANDRO MOREIRA                                 

Evandro Moreira nasceu em Cachoeiro, em 27.11.1939, filho de Pedro Moreira e de Lavínia Fonseca Moreira. Estudou em Rio Novo do Sul, no Bernardino Monteiro, na Escola Técnica (dos Herkenhoffs) e na Escola Técnica de Alegre. Formou-se advogado na Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Voltou a Cachoeiro, onde fixou residência, depois de morar por longos anos em Januária - MG e em Alegre - ES. Jornalista, dirigiu por 23 anos seu jornal "Mensagem", em Alegre. Fundador e primeiro presidente da Academia Cachoeiro de Letras e de um sem-conta de outras entidades culturais, é guerreiro sem trégua na divulgação histórico-cultural, sempre em profundidade. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Sonetista perfeito em forma e conteúdo, escreveu inúmeros livros, principalmente de poesia, romances e livros históricos (alguns deles romances históricos). É o maior pesquisador vivo da cidade e se ombreia dentre os maiores de todos os tempos. Na área de literatura, seu romance "Pau D'Alho" é dos precursores da proteção ao meio-ambiente. Seus romances históricos "Rancho Alegre" e "O Capitão das Matas", que relatam fatos dos inícios dos municípios de Alegre e de Cachoeiro de Itapemirim, são frutos de intensa pesquisa histórica, à qual Evandro se dedica diuturnamente. Neles, a História é real, apenas as circunstâncias são fictícias. Entre suas importantes obras destacam-se a coletânea "Poetas Cachoeirenses", verdadeiro e único inventários dos poetas de nossa terra (contém biografias e poesias de mais de uma centena de cachoeirenses). Sua obra maior, na minha opinião, é seu monumental "Cachoeiro, Uma História de Lutas". É um herói da cultura, pois a compreensão que recebe é mínima, sendo máximos seu esforço, coragem e perseverança, apesar de tudo e, eventualmente, de todos.

Fosse só citar títulos de seus livros, essas linhas seriam insuficientes. Melhor dizer que bem pouco eu escreveria nas pequenas biografias que reconstituo neste espaço, não fosse a pesquisa que faço nos livros de Evandro (e do Professor Maciel). Sirvo-me, com frequência, de sua orientação e memória. Evandro, hoje, é a única pessoa que conhece Cachoeiro às inteiras, é a fonte mais completa de nossa história. Se resolvesse paralisar suas atividades culturais não haveria a quem consultar em termos de informações gerais e profundidade. É quem mais escreveu livros entre nós, provavelmente no Espírito Santo. Não é prolixidade. É usina de letras, alguém que precisa desesperadamente escrever coisas boas e verdades (nem sempre coincidem). Ferino, por vezes, tem razões sólidas para tal. Como Quixote, luta contra os moinhos da ignorância, na terra que não tem primado, atualmente, pela cultura, pela história e pelo desenvolvimento social. Vai lançar, neste mês, livro sobre o poeta Newton Braga, de quem foi amigo e discípulo.

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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