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Tudo que os olhos podem ver

No centro da mácula temos a fóvea, que é o ponto de maior acuidade visual de nossos olhos


No olho humano existe uma área no centro da retina responsável pela visão nítida. Chama-se mácula. No centro da mácula temos a fóvea, que é o ponto de maior acuidade visual de nossos olhos. Para que tenhamos precisão, acabamos perdendo em amplitude e vice-versa. Se olharmos com atenção o pingo da letra "i", o resto da letra ficará desfocado. Se olharmos a amplitude do horizonte, não conseguiremos focar em algo específico. Se o fizermos, perdemos o horizonte. É mais ou menos como o princípio da incerteza postulado por Heisenberg na física quântica: ou se precisa a velocidade e se perde a localização do elétron, ou se define a localização e se perde a velocidade.
Pois bem, nariz de cera pra dizer que não é de nossa natureza ver um amplo campo de ideias de forma definida. Focamos em um assunto e tudo mais fica borrado. Tentamos ver o todo e perdemos o foco. Por isso, não raro, pessoas que possuem uma excelente "visão" de algum assunto nos parecem ter "perdido o foco" quando o assunto muda de "ponto de vista".
Há pessoas excelentes em um tipo de visão e outras em outro. Não se trata de estar certo ou ter razão. Trata-se da forma como "vemos" algo. E essa forma parte de como nos "colocamos" diante da situação. A "postura", física, mental ou psicológica é nosso primeiro referencial e nossa primeira limitação. Ao nos "colocarmos" diante de uma situação definimos como iremos percebê-la, estabelecendo imediatamente nosso "campo de visão" e, ao mesmo tempo, perdendo todos os outros campos possíveis.
A abstração necessária a permitir que extrapolemos o campo de visão que nos é dado/limitado por nossa escolha de posição, fazendo com que consigamos projetar e comparar os outros cenários possíveis, é uma arte complexa, mas que pode ser treinada. É como o músico que ouve todos os instrumentos em sua cabeça enquanto compõe uma música ao violão, ou o matemático que percebe os números vivos em sua fórmula enquanto observa a natureza. Esses homens e mulheres com uma visão global, que podem enxergar todas as direções e todos os tempos, fazem o mundo avançar centenas de anos em poucos anos. Nós, os simples mortais, dependemos dessas pessoas para sairmos do nosso lugar de conforto, iludidos que estamos no melhor lugar da platéia e, na verdade, estamos de frente para uma pilastra.
Mas há aqueles que buscam furar os olhos dos que veem tudo somente para impor ao mundo sua cegueira.
Ser um gênio de nossa espécie não é algo que possamos escolher.
Ser aquele que usa o conhecimento dos gênios para sair do lugar comum é uma escolha diária.


Leandro Vieira

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