Comunidade quilombola relembra o fim da escravidão - Jornal Fato
Cultura

Comunidade quilombola relembra o fim da escravidão

Grupos folclóricos da região sul-capixaba se apresentaram, e dividiram o espaço com os visitantes, que anualmente prestigiam essa bela festa


Roda de Caxambu - Luan Volpato

Ao som dos tambores, das palmas e dos cantos entoados pelos grupos folclóricos, a Comunidade Quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, deu vida a mais uma edição do "13 de Maio - Raiar da Liberdade", na noite do último domingo (13). Para festejar o fim da escravidão no Brasil, diversos grupos folclóricos da região sul-capixaba se apresentaram, e dividiram o espaço com os visitantes, que anualmente prestigiam essa bela festa, comandada há mais de 50 anos pela mestra de caxambu Maria Laurinda Adão.

 

"Todos os anos recebemos de braços abertos os grupos de caxambu, jongo, folia de reis, charola, bate-flechas e quadrilha. Precisamos sempre comemorar o 13 de maio, porque é a data mais importante para nós, o povo negro. É o dia em que nós fomos libertados. Esse também é o dia em que nosso Caxambu foi criado", afirma Maria, que é mestra do "Caxambu Santa Cruz", um dos mais tradicionais grupos de caxambu da região Sudeste, o qual recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Patrimônio Cultural do Brasil.

 

 

"Participar do Raiar da Liberdade aqui em Monte Alegre é se sentir mais perto da nossa história, do nosso passado, do que nós realmente somos e do que conquistamos ao longo da nossa jornada", comenta Dona Terezinha de Jesus de Oliveira Francisco, Mestra do Bate Flechas de São Sebastião São Jorge Guerreiro, de Cachoeiro.

 

A abolição da escravatura é o tema central dos versos das músicas, e o passado de escravidão é sempre lembrado nos fortes gritos de liberdade em forma de canções. "Não podemos deixar que nossa sociedade e que nossos governantes se esqueçam dessa que foi a maior vergonha de nossa história: a escravidão de negros que foram sequestrados de sua terra natal e trazidos para o Brasil. Infelizmente, como podemos constatar na atualidade, a escravidão ainda se mantém presente na intolerância racial e religiosa sofrida pelo nosso povo negro. Lutamos todos os dias para que isso acabe", afirma o gestor de projetos culturais Genildo Coelho Hautequestt Filho.

 

Emerson Costa, mestre da Quadrilha Tsunami do Boa Vista e atual presidente da Associação de Folclore de Cachoeiro, afirma que "realizar o 'Raiar da Liberdade' é essencial para a sobrevivência da cultura local. Dar visibilidade aos grupos da Associação é muito importante para que cada vez mais pessoas saibam o que a entidade faz e continuará fazendo por todos que a compõem. Para isso, é fundamental que se possa contar com o apoio e a parceria dos governos municipal e estadual".

 

Todos os anos, os ritmos e danças se misturam para dar o tom do Raiar da Liberdade, que é certificado como o mais antigo e tradicional evento folclórico do Estado do Espírito Santo. A alegria e a energia - suas características mais marcantes - contagiam, e fazem com que todos entrem nas rodas para dançar ao som dos instrumentos e das vozes. Fica a certeza de que, se depender da vitalidade de Maria Laurinda e das pessoas que seguem seus ensinamentos, a tradição do caxambu não vai morrer, e vai sobreviver ao tempo e ao preconceito.

 

Este ano o projeto contou com o apoio financeiro do Funcultura, da Secretaria de Estado da Cultura, através do Edital 2 (Diversidade).

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