Documentário sobre comunidade de Mimoso do Sul estreia dia 7 de maio - Jornal Fato
Cultura

Documentário sobre comunidade de Mimoso do Sul estreia dia 7 de maio

As histórias de moradores de São José das Torres, distrito de Mimoso do Sul, protagonizam o filme que estreia gratuitamente no YouTube


Foto: Ariny Bianchi

De quantas histórias é formada a história de uma cidade? Foi a partir dessa questão que nasceu "Entretorres", um documentário que não "fala sobre", mas "fala com" os moradores de São José das Torres, distrito de Mimoso do Sul, no sul do Estado. O filme da diretora Fabíola Buzim estreia na próxima sexta-feira (7), às 19h30, gratuitamente no YouTube, no endereço: youtube.com/fabulana .

Quem não puder assistir no horário anunciado, não precisa se preocupar, pois o filme ficará disponível até a madrugada de segunda-feira (10). O projeto foi contemplado pela Lei de Fomento do Audiovisual da Secretaria da Cultura (Secult).

 A responsabilidade de conduzir a narrativa foi dada aos personagens que, junto com a diretora e o roteiro, constroem no filme as verdades possíveis da localidade. Verdades sobre histórias de terror e assombração, de amores, de sexualidades dissidentes, de violências e crimes, de festas, lendas, opressões, alegrias e de vida.

 Os moradores, atores que narraram suas próprias histórias, conduziram um roteiro que abandonou a pretensão de apresentar verdades sobre aquelas pessoas, suas territorialidades, e também sobre as subjetividades com as quais se relacionam com o mundo. As verdades são deles e não sobre eles, somando-se a isso o reconhecimento do próprio filme, e da diretora, de que existe implicação dos realizadores com a história contada. Nesta direção também se reconhece que as intervenções feitas pela equipe durante a filmagem interferem nas narrativas. O resultado é um movimento de busca por uma relação simétrica entre a diretora e os moradores de São José das Torres.

 Projeto

   Foi por meio de uma circulação teatral, em 2012, que a atriz e diretora Fabiola Buzim conheceu o pequeno distrito de São José das Torres. Após a apresentação do espetáculo, ela permaneceu na cidade por uma noite, tempo suficiente para mudar sua forma de ver e de deixar que a fizessem ver as cidades do interior. 

 A narrativa do filme manteve a incerteza sobre as respostas acerca do distrito para que nem realizadores impusessem sua leitura sobre as histórias e nem os donos da narrativa se fechassem às intervenções dos realizadores. Essa perspectiva é derivada da teoria ator-rede do francês Bruno Latour. Realizadores também são atores nesse processo e a narrativa se constrói a partir de uma proposição na qual todos os atores fazem alguma coisa e não ficam apenas observando. Em vez de simplesmente transportar efeitos sem transformá-los, cada um pode se tornar uma encruzilhada, um evento ou a origem de uma nova translação. Os atores não são intermediários, mas mediadores que tornam visível ao espectador o movimento do social.

 O filme também toma emprestada ideias de Walter Benjamin, em "O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov", para privilegiar as narrativas em detrimento da informação, o que leva a outro importante influenciador: Ítalo Calvino, em seu livro Cidades Invisíveis. As reflexões da obra sobre as ciladas preparadas para os que têm a pretensão de descrever uma cidade observando suas paisagens e aparentes obviedades também contribuíram para a construção do filme.

 Diretora

   Há 20 anos, a capixaba Fabiola Buzim se dedica à carreira artística como atriz, professora de teatro, produtora e pesquisadora. A trajetória de Fabíola Buzim, que também é jornalista, teve início no teatro de rua, de forma amadora. Graduou-se em Artes Cênicas na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e, em 2005, estreou no cinema ao atuar no curta ¨A fuga¨, de Saskia Sá.  No mesmo ano protagonizou o curta "PS: Post Scriptum", de Jeff Pinheiro. No período de 2005 a 2015, trabalhou com diferentes diretores e diretoras em: "O homem que sonhava fotografia", de Tiao Xará; "Punhal" e "Milagres", de Luiza Lubiana; "Azulzinho" de Jefinho Pinheiro; "João", de Carlos; "A própria cauda", de Virginia Jorge; e "Entreturnos", de Edson Ferreira.

 Em sua carreira no cinema atuou em 11 curtas e três longas-metragens, somando 12 prêmios como melhor atriz em festivais nacionais e internacionais. Atualmente, é mestranda em Estudos de Cinema e Teatro Latino Americano e Argentino no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Buenos Aires.

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