Ícone da comunidade Quilombola de Vargem Alta será homenageada

Dona Amélia, a moradora mais antiga com 97 anos, é a figura mais representativa de Pedra Branca.

Ramon Barros Quarta-feira , 10 de Fevereiro de 2021

Com o objetivo de homenagear as diversas histórias que essa comunidade tem por sua natureza, foi escolhida como representante, Dona Amélia, figura mais representativa de Pedra Branca.

Com seus 97 anos, e moradora na comunidade a aproximadamente 90, representa a resistência da cultura negra, através de sua memória, e da transferência de conhecimento na contação de suas histórias, mas também em seus movimentos, no seu olhar e no jeito de cuidar das coisas do dia-a-dia.

Sua vivência, desde de criança na comunidade, das lembranças da fazenda de produção de cana de açúcar, do caxambu, do local onde abrigava o tronco, na fazendo São Pedro, que apesar de não ter vivido o período da escravidão, ela ouviu de seus antepassados histórias de origem de povos vindos da África. Todas essas memórias, que mesmo pela idade avançada, ainda afloram de suas lembranças, fazem de Dona Amélia uma personalidade importantíssima, do resgate de tradições da comunidade quilombola, como da resistência do movimento negro. Ela representa a tradição e oralidade de histórias, uma verdadeira "literatura viva".

"Uma das histórias que Dona Amélia sempre conta é de quando ela era criança e ficava vendo a roda do caxambu, os batuques do atabaque, que eram produzidos com toras de madeira e couro de boi. Sempre tinha um batuque maior e um menor. Ela também conta sobre como era encantador ver as mulheres na roda. Nessa época, ela era criança e só podia ver. Perguntei a ela se lembrava de algum verso. Sem nenhuma lembrança, ela destacou, apenas, que a roda de caxambu que ela via, naquele tempo, era bem diferente das que vemos hoje. São essas lembranças que ela nos conta, com brilhos nos olhos, que nos fazem pensar sobre uma história que nunca ouvimos falar. De um povo que não soubemos que também era nosso povo vargem-altense. São histórias de vida, de quem viveu (e ainda vive) em nosso município", relatou Michele Sampaio, secretária de educação de Vargem Alta e umas das colaboradoras do projeto, sobre a conversa com a Dona Amélia.

Um dos objetivos do 1º LITERALTA é fazer uma homenagem à Dona Amélia. Por se constituir umas das pessoas de maior referência africana do território quilombola de Pedra Branca. Ela nasceu em Prosperidade e mudou-se para a localidade de São Pedro e Pedra Branca aos seis, sete anos de idade. Ali cresceu, estudou e se casou. Ela viu a comunidade crescer e cada uma das famílias se formando.

Comunidade Quilombola de Pedra Branca

Em fevereiro de 2011 a comunidade de Pedra Branca foi reconhecida através do Ministério da Cultura e da Fundação Cultural Palmares e certificada pelo Governo Federal como a 29ª comunidade quilombola do Estado. Hoje a localidade abriga 139 famílias sendo que 80 são afro descendentes. Pesquisas confirmam que nessa região aportaram naus que vieram direto do continente africano, junto com esses, algumas manifestações da cultura africana foram trazidas e mantiveram suas características autóctones aqui no Brasil, uma delas é o caxambu, tradição de descendência bantu.