Com vagas de emprego, falta mão de obra qualificada - Jornal Fato
Emprego

Com vagas de emprego, falta mão de obra qualificada

Mas a vida dos candidatos também não é algo fácil. As empresas exigem muitas qualificações, graduações, pós e experiência mas oferecem salários abaixo do que o mercado está operando


- Foto: Ketut Subiyanto Pexels

Mão de obra qualificada parece ser algo que está ficando raro em tempos atuais. De um lado, empresas que precisam contratar, novas vagas que já estão surgindo em 2021, e de outro pessoas que necessitam de emprego. Entre os dois lados, um abismo de diferenças que colocam em risco as contratações.

Em Cachoeiro de Itapemirim, novas empresas tem dificuldade em encontrar as pessoas certas para contratação. Nas áreas de saúde, finanças e tecnologia por exemplo, profissionais qualificados são raros.

Enfermagem e Fisioterapia são duas das oportunidades mais concorridas atualmente. Há também escassez de vendedores e representantes de vendas, profissionais técnicos e de produção. E no setor de rochas ornamentais, operadores de produção não são encontrados para atender a demanda. 

O resultado de uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Robert Half, apresentou dados significativos: a taxa de desocupação nos postos de trabalho está em 13,7% e a porcentagem de candidatos qualificados acima de 25 anos com ensino superior é menor de que 6%.

A falta de mão de obra qualificada é uma realidade não só de Cachoeiro, mas de toda região Sul do estado. Empresários sentem na pele o desafio de contratar pessoas com habilidades tanto técnicas, quanto comportamentais.

Para Kelen Xavier - Ceo da Linkar Consultoria e Gestão de Pessoas, existem alguns cargos é possível trabalhar o desenvolvimento profissional.

 

Kelen Xavier

"Mas não são todas as empresas que possuem tempo e um profissional capacitado para ministrar os treinamentos. Já em outros cargos, há extrema necessidade de identificar os Hard Skills (conhecimentos técnicos) e Softs Skills (Habilidades comportamentais)", explica Kelen.

 

Tecnologias

A automação tem exigido das pessoas que buscam emprego, uma nova forma de se apresentar, de se comunicar e de se portar no dia a dia e até de se relacionar com clientes, colegas e superiores.

O voluntário da ABRHES (Associação Brasileira de Recursos Humanos - Regional Sul Capixaba), Atílio Peixoto Soares Júnior avalia que há dificuldades para o mercado receber as pessoas novas, vindas do ensino médio ou faculdade.

As habilidades técnicas, conhecidas hoje como Hard Kills são escassas: "Por exemplo, o uso do pacote Microsoft Office. Um Word, Excel, Power Point e agora o Teams; notamos uma dificuldade dos candidatos em redigir um texto coerente, expondo suas idéias redigir um comunicado interno etc... mas não estamos falando de cargos diferenciados; esse perfil técnico é o mínimo para ser admitido em uma organização", explica Peixoto.

Já as qualidades comportamentais hoje em dia são muito exigidas pelas empresas e podem determinar a permanência e ascensão de um funcionário. As chamadas Soft Kills são fundamentais por exemplo para alçar cargos como chefia, liderança e gerência.

 

Atílio Peixoto Soares Júnior

"O canditato vai conversar com o entrevistador sobre criatividade, atitude, coragem, e ousadia. O mundo precisa de pessoas assim, capacitadas para resolverem problemas. Isso gera a inovação. É muito importante que as pessoas desenvolvam essas habilidades lendo, estudando, ouvindo podcast, assitindo TED's, fazendo um trabalho voluntário que gera empatia, tão importante hoje em dia e também que aprendam com pessoas que fazem a diferença", ensina Atílio Peixoto, da ABRHES - SUL

Kelen Xavier, da Linkar, destaca algumas dicas especiais para que os candidatos possam mostrar um diferencial na hora de concorrer a uma vaga:

"Busque informações sobre os cargos que estão em alta, foque, planeje, estude, faça especializações necessárias para a área que pretende, siga páginas que vão agregar conteúdo sobre a sua formação, a dica é estar sempre atualizado", garante a consultora.          

 

Falta mão de obra qualificada?

O apagão de mão de obra é um termo que era utilizado para algumas áreas, mas hoje em dia, a maioria dos segmentos econômicos enfrenta esse problema. Isso acontece por que as pessoas não se qualificam para entrar nas empresas. É o que explica o mestre em administração, especialista em gestão de pessoas e professor universitário Maycon Delatorri. O objetivo das empresas é contratar pessoas que agreguem. Quem é qualificado tem um diferencial no mercado.

"As empresas sempre buscaram profissionais qualificados e no momento elas não tem tempo para qualificar os seus funcionários recém contratados, daí a dificuldade de encontrar pessoas aptas para trabalhar", relata Maycon.

Com experiência em recrutamento e seleção, Delatorri conta também que tem visto com frequência a oferta de vagas mas os profissionais não estão qualificados para as oportunidades, com cursos, habilidades e algo que as destaque no mercado.

O especialista em gestão de pessoas está com uma vaga para "contas a pagar". Mas diante dos inúmeros currículos, algumas habilidades especiais que seriam um diferencial para a empresa, não foram encontradas.

 

Maycon Delatorre

"Existem pessoas que buscam conhecimento e outras que não buscam. Para quem tem curso superior o ideal é se especializar naquela área. Para quem não tem graduação, pode fazer cursos técnicos gratuitos. O curso técnico abre as portas para os primeiros passos, e as empresas buscam pessoas assim para desenvolver dentro das empresas. Tem cursos online gratuitos, de extensão por exemplo", explica o mestre em administração, que destaca: "Quem forma e para ali, não consegue ser contratado".

 

Inteligência Emocional é um diferencial

Para o palestrante e colunista do Jornal Fato, Ramon Barros, o relacionamento interpessoal faz muita diferença no mercado de trabalho. As organizações procuram hoje em dia pessoas que saibam lidar com as pressões do dia a dia e que consigam se manter produtivas quando algo dá errado ou quando uma nova demanda chega, em cima da hora. Mas a inteligência emocional e a comunicação eficaz são essenciais no mercado competitivo.

"Vejo várias empresas reclamando que na hora da entrevista, alguns candidatos já são descartados pela forma com que chegam ao local para avaliação. Alguns atrasados, com roupas inadequadas ao momento e isso acontece até mesmo quando a entrevista de emprego é online: como estão em casa alguns ficam sem camisa, outros de pijama, com os pés no sofá, bem a vontade", revela Ramon.

Além disso, dentro das habilidades Soft Kills, estão: pontualidade, ética, respeito, proatividade, a forma com que os colaboradores cuidam do patrimônio da empresa, de que forma se mostram nas redes sociais, entre outras habilidades intangíveis, também são observados pelas organizações.

"Resiliência e empatia são chaves que colocam qualquer profissional à frente no mercado de trabalho, e são habilidades que as pessoas nascem ou podem aprender", detalha Ramon Barros.

Mas a vida dos candidatos também não é algo fácil. As empresas exigem muitas qualificações, graduações, pós e experiência mas oferecem salários abaixo do que o mercado está operando. É o que afirma a palestrante e consultora com especialização em carreira, Roberta Assis, de São Paulo. 

Ela conta que há também muitas pessoas que não conseguem trabalho por que enviam currículos sem observarem o que as organizações estão pedindo, ou seja, não tem as competências necessárias para a vaga.

"Outra coisa que dificulta a contratação hoje em dia são os candidatos que tem a formação exigida, possuem experiência mas não se adaptam à cultura da empresa, às vezes uma exigência sobre o cargo, flexibilidade de horário, e aí nós notamos que a parte comportamental é algo que impede que as pessoas sejam admitidas", explica Roberta Assis.

 

Roberta Assis

Existem centenas de vagas, abertas diariamente, e quando os candidatos suprem essas exigências do mercado, são contratados imediatamente. Mas ele pode perder a oportunidade se a inteligência emocional não estiver em sintonia com os tempos atuais e com as organizações modernas.

"É que são pessoas muitas vezes que são inflexíveis, que não se adaptam a mudanças, que não tem paciência para trabalhar com a equipe, e aquelas que ainda só executam aquela atividade se o líder der a ordem; por exemplo, são pessoas que querem o salário, mas não executam as tarefas. Nas entrevistas aceitam todas as condições, mas no dia a dia a coisa muda", revela a consultora Roberta.

A consultora ainda aconselha aos candidatos a serem verdadeiros na hora de entrar em uma empresa: "Recomendo que só vão para a seleção final, se realmente estão dispostos a trabalhar e permanecer naquela empresa; A gente percebe que muitos funcionários são contratados, ficam um mês, dois meses e se não gostarem saem da empresa. Isso é ruim para o profissional e ruim para a empresa que investiu na contratação", conta Roberta.

 

 

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