"A gente conseguiu dar conta do recado" - Jornal Fato
Entrevista

"A gente conseguiu dar conta do recado"

César Colnago concede entrevista exclusiva ao Espírito Santo de FATO e abre o jogo sobre as articulações eleitorais


Foto: Dayane Hemerly

O vice-governador César Colnago (PSDB) visitou municípios do sul do Espírito Santa na semana passada, conversando com lideranças políticas, ouvindo questões ligadas à Agricultura, Saúde e Infraestrutura urbana e rural, além de conhecer e visitar obras.

Na quinta-feira (28), esteve na redação do jornal Espírito Santo de FATO onde concedeu a entrevista que segue em que fala de eleições, política e governo: "não deixamos a peteca cair", avalia.

 

FATO - Sua carreira política sempre foi ascendente de vereador em 1993, com mandatos sucessivos, passando por Assembleia, Câmara Federal, até chegar a vice-governador. Em Presidente Kennedy o senhor afirmou a intenção de ser candidato a deputado federal. Não é um passo atrás?

César Colnago - Desde que Ricardo (Ferraço) se filiou ao PSDB fizemos o compromisso de que ele seria naturalmente o candidato à reeleição ao Senado, se assim ele quisesse. E é o que ele está colocando. Para governador, até pela parceria do PSDB com o antigo PMDB, agora MDB, somos sócios dessa reconstrução. Desse novo momento que o Espírito Santo está vivendo. Fazendo a coisa certa, no momento certo, mesmo que incompreendido um pouco no começo. A gente ajustou as contas e deu conta do recado que é organizar o estado. Isso nos aproxima muito do governador nesta discussão sobre candidatura ao governo - que, evidentemente, depende da definição que ele ainda não deu. A tendência nossa é, entendendo que ele deverá ser candidato, fazer aliança com o MDB aqui no Espírito Santo.

 

O cenário nacional, com MDB e PSDB com candidaturas próprias a presidente, não pode influenciar no cenário daqui?

Não, pois não será verticalizado. O que temos colocado como prioridade é que a aliança aqui reserve espaço para o palanque nacional. Nosso pré-candidato é Geraldo Alckimin. Segundo, é a questão da senatoria. São duas vagas e a gente vai estudar a figura do Ricardo para a reeleição. O terceiro, é a questão das proporcionais. A gente quer participar, na composição de alianças, juntamente com a definição do bloco, dependendo da definição do governador, que ainda não houve. Por fim, a questão da majoritária, que seria vice-governadoria e suplência de senador, mas isso só se define no final. Estamos na antessala das prévias. As convenções devem acontecer no final de julho ou início de agosto.  Estou andando e, além de visitar obras, tem essa questão da candidatura de federal. É aquilo que o governador Paulo fala: tem muita tarefa. A política brasileira tem dificuldade. Coisas que assistimos de corrupção, escândalos... mesmo os déficits criados no orçamento nacional. O desencontro da política brasileira precisa de reformas. E a Câmara tem papel fundamental. Acho que há, também, a tarefa, independente de quem chegue lá, de acabar com esse déficit fiscal. Na verdade, tem que fazer a reforma do Estado. Dentro da visão da partilha de quem faz o que. O tamanho do Estado. Ao mesmo tempo tem que rever o código tributário que é uma confusão. O mais complexo do mundo. As empresas gastam muito mais horas para tentar ficar certinho com a legislação tributária do que em qualquer outro país. A reforma eleitoral e partidária é outro ponto. Já temos um congresso que é o mais partilhado do mundo. Se não me engano, tem 23 partidos representados. Como é que se cria convergências e consenso?

 

Exato. Como encontrar consenso para isso num país dividido com expoentes à esquerda e à direita com, além deles, mais 17 pré-candidatos à presidência declarados?

A fragmentação é muito grande e a alteração da legislação eleitoral trouxe essa indefinição para mais perto da eleição. Em momentos de crise, em que todo mundo acha que é dono da verdade, é danado para surgir o populismo, seja à direita ou esquerda. Precisamos de candidatos que tenham, além do compromisso político e social com a mudanças necessária, legado e equilíbrio para fazê-las. Aquilo que, de certa forma, fizemos aqui no Estado. Espero que a gente consiga construir mais convergências ou consensos temporários, para dar o rumo neste país. Senão, a crise aumenta e aí o risco fica cada vez maior para a população pois precisamos acertar com as reformas tributária, política, fiscal...

 

Um novo pacto federativo não é necessário?

É mais do que necessário. Talvez uma coisa ainda à frente, de rever coisas da nossa Constituição. Ela foi feita um ano antes da queda do muro de Berlin. Remete um pouco a história de um passado que já não faz mais muito sentido. Então é iniciar as reformas e repactuar essas relações entre os entes federados, a competência e o tamanho dos poderes. Se não fizer isso, a máquina do Estado vai continuar a pesar muito sobre os ombros dos brasileiros. Exigindo carga tributária cada vez maior e devolvendo pequeno retorno naquilo que é essencial para ela. A carga tributária muitas vezes inibe o desenvolvimento e a trazer emprego, renda, saúde e educação para a população, fundamentais para trazer a paz, pois a violência é fruto desses desajustes, cada vez mais investindo em segurança e em sistema prisional. É preciso corrigir rota e olhar muito para as crianças e para os jovens, que são nosso futuro, e fazer políticas voltadas para que eles possam caminhar. Para isso precisamos de um Estado que dê retorno. E isso são, principalmente, as políticas socais do setor público e de infraestrutura. Ter bem conduzido o processo de Educação, Saúde, ao mesmo tempo com infraestrutura, gerando emprego e renda, assim você desenvolve o país, para que faça arrecadação de capitais, brasileiro ou internacional, para investir no setor produtivo é fundamental, não esquecendo da agricultura, do serviço, turismo, indústria e comércio. Esse conjunto tem que estar estimulado. E a crise faz todo mundo tirar o pé do acelerador ou pisar no freio.

 

E a crise política? Como resolver?

A eleição é para isso. A hora da gente resolver a crise política ou, pelo menos, dar nova direção. A gente vai poder voltar a ter esperança. É preciso reconstruir a esperança. O povo está muito desanimado. Precisa acreditar que tem jeito. Aquilo que estamos fazendo de errado, vamos corrigir e andar para a frente. Isso passa, evidentemente, pelas políticas regionais, mas muito pelo Congresso. Câmara e Senado são fundamentais. É preciso sentir o pulsar das ruas e elaborar políticas de tal forma que a máquina brasileira, seja união, estado ou município venha a atender essas demandas. Não acho que está tudo errado. Sou um otimista. A gente começa a fazer as coisas pela base para que possa construir uma sociedade melhor.

 

Mas o eleitor está reticente com a política.

Percebo que estamos indo para o voto facultativo na prática. Em todas as outras grandes democracias, metade decide pela outra metade. Até porque a crise de representação não é só brasileira, infelizmente. Por outro lado, vivemos dias de profunda decepção com a representação política.  Mas não é a história de todos. Sou muito bem acolhido onde ando. Até porque tenho uma história muito transparente. Quando vou conversar com as pessoas, posso resgatar tudo que fiz. E isso facilita as coisas. Sou do diálogo. Fazia oposição permanente lá (na Câmara Federal) ao governo da presidente Dilma, mas jamais querendo que fosse quanto pior melhor. E todas as vezes que ela apresentava projetos, a gente debatia, às vezes fazia emendas, mas sempre votando a favor da população.

 

Para boa parte da população, a decepção com os políticos é enorme.

Eu não tenho sentido, particularmente, muito essa reação. O que sinto, é que parte da população está fria. Não quer votar ou nem mesmo ver político. É fruto deste descalabro que estamos vivendo. Agora, a vida continua. Vamos tentar construir um amanhã melhor. Independente de qual partido, qual candidato.

 

Até porque, não há saída fora da política...

Não tem. Desde que o homem deixou de ser catador, coletor, e vai viver em sociedade, surge a política, que é para engrandecer e desenvolver a sociedade. Não é a política que está ruim, mas a representação. É um nobre instrumento da humanidade. Está ruim a representação? Vamos trocar. Vamos votar.

 

Como identificar um bom candidato ante tantas decepções?

Aquele que tem compromisso, que tem histórico e que acima de tudo - Aristóteles falava isso - olhe as atitudes pessoais: como ele é? Quer dizer: além da bandeira política, da defesa das suas teses, como ele é na vida? Aquilo que ele está falando, vai cumprir? São as atitudes pessoais. Isso é fundamental. Acho que a gente sempre está tentando renovar. Nas últimas quatro eleições nacionais, sempre se renovou entre 40 e 50%. Está renovando e às vezes não está melhorando. É o seguinte: que renovação queremos? Quem devemos manter de valores e mesmo de representação e quem nós devemos trocar?  É essa análise que a população tem que fazer.

 

O senhor diz que fez vice-governadoria diferente, interiorizada. O que isso significa?

A vice-governadoria é muito de representação política. De substituição do governador. Durante 12 vezes eu assumi o papel. Seja em férias, seja na situação em que ele teve problema de saúde. Quando chegamos ao governo, falei: governador, aquelas coisas que eu sinto que a gente precisa de implementar e estão soltas, eu vou cuidar. Basicamente as políticas públicas contínuas: sobre drogas, direitos humanos, primeira infância... coisas mais ligadas à cidadania e área social ficaram, temporariamente na vice. Eu fui um vice que, na verdade, fiz muito de uma secretaria, não quis assumir nenhuma específica e peguei alguns papéis provisórios.

 

E por que não assumiu secretaria?

Eu tinha um pouco de receio desta crise genuinamente nacional, se a gente teria condições de colocar o Estado novamente com capacidade de investimento. Investir nas áreas que a sociedade demanda da gente e precisa. Eu tinha dúvidas. Por isso decidi ficar na vice, para ajudar no todo.

 

Qual análise faz da gestão?

Sob a liderança do governador Paulo Hartung, acertamos as contas e o nosso caixa, não criamos déficit e voltamos a adquirir a capacidade de investimento, até para atrair investimentos. A gente conseguiu ir mais além do que eu imagina. A máquina estatal está organizada, pagando em dia aos fornecedores, servidores. Retomamos as obras, com o retorno da capacidade de investimento. Implementamos novas políticas, por exemplo, na área de recursos hídricos, barragens, também no Reflorestar. Na área de educação, criamos 32 Escolas Vivas. Na área da Saúde é revolucionária a Rede Cuidar, os 470 novos leitos, mais 26 agora, na área de oncologia pediátrica. Reequipando agora muito do setor de Segurança: viaturas, equipamentos, armamentos.

 

E como foi governar em meio a tantas crises?

É lógico que gostaríamos de ter feito muito mais, mas na situação da crise brasileira, crise econômica, desemprego, diminuição da arrecadação, queda no valor do barril do petróleo, queda no ICMS, final do Fundap, a paralisação da Samarco, crise hídrica, que atingiu muito os capixabas, seja na cafeicultura, na fruticultura, nas outras áreas da agricultura. A gente conseguiu organizar várias áreas novas do Governo, assim como retomar aquilo que é fundamental. Neste ano, com R$ 1 bilhão de investimentos, dos quais R$ 600 milhões com recursos próprios. A gente está retomando a capacidade e isso é fruto do crescimento da arrecadação, mas, evidentemente, de uma gestão organizada, que não desperdiça dinheiro e aprende, melhor ainda, como priorizar aquilo que tem mais impacto, fazendo mais para aqueles que têm menos. Isso é o sentido da Justiça e do investimento social.

 

Então, sua avaliação é positiva.

Minha avaliação é de que a gente conseguiu dar conta desse recado, não deixou a peteca cair e estamos retornando à normalidade da gestão pública à medida em que a nossa capacidade de investir aumenta e apostando no desenvolvimento econômico, geração de emprego e renda. É isso. Estabilidade política, e jurídica e criar ambiência para investir é fundamental e nós estamos vendo empresas chegado, a própria área portuária aqui no sul. Os dois primeiros anos foram, com certeza, dificílimos. Muitas vezes pessoas não tiveram tolerância ou compreenderam, mas essa fase nós já ultrapassamos e mostramos que com os nossos compromissos, do governador Paulo Hartung, nossa equipe e dos partidos que fizeram aquela aliança, estamos entregando o estado com certeza melhor.

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