"Mercado do Amarelo": centenário que coleciona histórias - Jornal Fato
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"Mercado do Amarelo": centenário que coleciona histórias

Há controvérsia sobre o centenário do espaço, que faz parte da história do desenvolvimento do município


Foto: Divulgação

O Mercado Municipal São João, chamado carinhosamente pelos cachoeirenses de 'Mercado do Amarelo' coleciona histórias e memória de quem trabalhou ou ainda trabalha no local, e de quem frequentou o espaço como visitante ou cliente.

Existe uma controvérsia sobre a data exata de sua inauguração. Para a prefeitura, o centenário foi completado no último dia 22 de fevereiro, entretanto o jornal "O Cachoeirano" de 4 de maio de 1922, que indica, em ampla matéria de primeira página, a inauguração do Mercado em 28 de abril de 1922. Ou seja, completaria cem anos apenas no ano que vem, apesar de estar fixada a data de 1921 na fachada do prédio.

Tombado em 1996, o espaço faz parte da história do desenvolvimento do município. Foi, por muitos anos, um ponto essencial para comercialização da produção agrícola local. Atualmente, é possível encontrar no mercado produtos hortifrutigranjeiros, açougue, bares e barbearia. Localizado na rua Costa Pereira, Centro, o espaço também é palco para eventos e apresentações culturais.

Elimário Gomes, de 69 anos, trabalha no Mercado há 25. "Eu comecei trabalhando pela prefeitura, limpando o Mercado. Tenho muito orgulho de falar que limpei os banheiros, limpei o chão desse lugar. Varria o pátio lá fora, onde hoje tem uma pracinha bonita. Meu trabalho era esse, deixar tudo limpinho. Sinto-me orgulhoso. Tenho aqui bons companheiros".

Ele conta que, em 2005, após se aposentar, começou a trabalhar ali mesmo. "Fui aprendendo a consertar sombrinhas, pegava as peças que eram jogadas fora e montava uma sombrinha. Fui aprimorando", conta.

Hoje, Elimário, que também é conhecido como "Dr. Sombrinha", tem clientes fiéis, que saem de longe para ter seus guarda-chuvas consertados por ele. Além de consertar, ele aceita doações de sombrinhas estragadas para recuperar outras. Aproveita, inclusive, o tecido para reciclar. Ele atende no 2º piso do Mercado, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h.

 

Atílio Fábris, um pioneiro

Um dos pioneiros no comércio no Mercado Municipal foi o produtor Atílio Fabris, que conforme declara seu filho José Domingos Fabris, era um líder carismático e perspicaz, que pensava além do seu tempo. "Meu pai não foi pioneiro, foi pioneiríssimo. Ele foi um homem que abraçou o Mercado Municipal, um comerciante muito próspero e muito sábio".

José Domingos conta que começou a acompanhar o pai na década de 50, quando tinha 10 anos, e permaneceu com ele até seus 18 anos, quando saiu para cursar o ensino superior. "Meu pai começou do lado de fora, quando havia ainda as bancas de cavalete. Não me lembro bem o ano, mas foi pouco depois do mercado abrir, ele tinha quase 30 anos. Pouco tempo depois, ele começou a trabalhar dentro do mercado".

Atílio Fabris tinha uma mercearia e uma câmara frigorífica, onde armazenava suas frutas, que, à época, eram nobres, como maçãs, uvas, peras, ameixas e melões. "Ele tinha muitos clientes da elite, porque houve essa fase em Cachoeiro. Então, tinha uma banca muito boa, com mercadorias sofisticadas, de alta qualidade, que ele comprava uma vez por mês no Rio de Janeiro. Além disso, investiu em uma câmara frigorífica onde as armazenava. Ele foi, por muito tempo, o único que tinha o equipamento", destaca.

De acordo com José Domingos Fabris, Atílio fechou seu comércio no Mercado Municipal após a década de 60 e foi morar em Vitória, onde morreu em dezembro de 1981. O sentimento do filho fica evidente ao falar do pai. "Tenho um orgulho muito grande de ter visto tudo isso. Ele foi, de fato, a alma daquele mercado, e, não só, também de Cachoeiro. Falo com entusiasmo e saudade".

 

Homenagem

Em 1995, o Mercado Municipal foi revitalizado e ganhou o segundo piso, a galeria Atílio Fabris. No local, havia uma placa com o nome de Atílio, que, por algumas vezes, segundo José Domingos Fabris, foi arrancada. "Uma pena terem feito isso. Vi colocarem a placa com o nome do meu pai, mas foi tirada de lá em atos de vandalismo".

 

Mercado deve ser reformado

Em 2019, o prédio ganhou nova pintura na fachada, reparo nas paredes e melhorias na área interna. Agora, a Secretaria Municipal de Agricultura (Semag), responsável pelo espaço, planeja uma reforma completa - estrutural, hidráulica e elétrica. O projeto prevê a criação de novos espaços, adequações de acessibilidade e melhorias no entorno, como a construção de estacionamento para os consumidores e comerciantes do local. Um dos objetivos é ampliar a ocupação espaços por produtores rurais, resgatando a vocação original do prédio.

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