Relação entre segurança e desenvolvimento em debate - Jornal Fato
Especial

Relação entre segurança e desenvolvimento em debate

Lideranças locais compartilham consenso de que, para prosperar, cidade necessita sentir-se segura em toda a abrangência do termo


- Ronaldo Santos/Jornal Fato

De cidade mais violenta do mundo, na década de 1980, à que mais recebe investimentos privados na América Latina. Este é o exemplo de sucesso de Medellín, na Colômbia.

Estudioso do caso - de como a cidade colombiana, outrora conhecida como "a capital do crime", terra de Pablo Escobar, conseguiu se tornar referência em segurança pública, urbanismo e cidadania em menos de duas décadas -, Murilo Cavalcanti, que é secretário de Segurança Urbana da capital pernambucana (Recife), fez palestra em Cachoeiro de Itapemirim, a convite da Prefeitura Municipal.

Para o auditório lotado da Faculdade de Direito FDCI, o especialista expôs as principais soluções inovadoras adotadas pelos colombianos.

Lideranças locais presentes no evento compartilham o consenso de que, para prosperar, uma cidade necessita sentir-se segura em toda a abrangência deste termo.

Para José Bessa Barros, vice-presidente institucional do Movimento Empresarial Sul do Espírito Santo (Messes), a segurança pública é a base para a atração de investidores para iniciar novos negócios e até manter os já existentes.

"Se você não tiver a certeza de que o conjunto - a infraestrutura de sua empresa e, principalmente, as pessoas - está em situação de segurança, isso motiva o empreendedor a buscar outra alternativa, buscar até uma outra cidade".

O conteúdo mostrado trouxe otimismo a Bessa. "É muito importante temas como este, a forma como foi abordado aqui, e essa experiência bem sucedida não só na Colômbia, mas principalmente já em nosso caso, Recife, também apresentando com sucesso estes ensinamentos. É ótimo ver e ouvir mensagens nesta ordem para o nosso conforto e a nossa segurança".    

O diretor da FDCI, Francisco Ribeiro, reforça que o capital tende a se voltar para aquelas sociedades onde há segurança em todos os aspectos.

"Percebemos o exemplo de Medellín... consequentemente, o capital se afastou no passado. No momento que as coisas começam a funcionar a partir de certos parâmetros de normalidade e de segurança, o capital vai para lá e aí você tem uma sinergia de fatores benéficos, tanto para a própria segurança quanto para o desenvolvimento econômico, que vai afetar as áreas mais diversas da sociedade", conclui.  

Impressionado com os resultados obtidos na cidade colombiana, assim como em Recife, por meio do Centro Comunitário de Paz (Compaz), o prefeito de Cachoeiro, Vitor Coelho, demonstra que está diante de uma grande fonte de inspiração.

"Estamos tentando implementar na nossa cidade uma mudança de conceito, mudança de visão... Ouvi uma frase muito interessante do ex-prefeito de Medellín, Aníbal Gaviria: ele disse que você não acaba com a violência acabando com a pobreza, você acaba com a violência diminuindo desigualdades".   

Vitor aposta na melhoria da qualidade do serviço público prestado nas áreas carentes para impulsionar o desenvolvimento econômico e social.  "Queremos levar o melhor dos serviços públicos para quem mais precisa, tem mais necessidade, para as regiões de maior vulnerabilidade, para mudar essa realidade primeiro e através dessa mudança poder desenvolver economicamente a região".  

O prefeito amplia as explicações sobre o conceito. "O objetivo é tornar a cidade voltada para as pessoas. Ninguém está acostumado com isto, que a cidade deve ser para as pessoas... quando você leva o melhor dos serviços públicos para as comunidades carentes, desenvolve o intelecto e melhora a qualidade de vida, possibilitando que a comunidade se torne autossustentável. Assim, ela vai começar a gerar sua própria economia, sua economia criativa, uma coisa vai puxar a outra, vai ser a consequência desse trabalho que estamos fazendo", enumera.   

 

Lição

O palestrante Murilo Cavalcanti frisou que condição econômica desfavorável não é fator impeditivo para o poder público agir. "Toda prefeitura do Brasil, por mais pobre que seja, pode implementar...".

O especialista reiterou que "o capital privado vai para onde tem segurança, não somente segurança jurídica". Segundo ele, Medellín recebeu, quatro anos atrás, o título de cidade inovadora do mundo, concorrendo com Nova Iorque (EUA) e Tel Aviv (Israel), não por ter feito um produto de tecnologia, mas pelas intervenções urbanas, espaços de convivência cidadã nas favelas, bibliotecas públicas nas áreas mais pobres da cidade, além de transporte coletivo de ponta, entre outras importantes medidas.

"Era conhecida como a terra de Pablo Escobar, do narcotráfico, e hoje é a cidade que recebe mais investimento privado na América Latina. Impossível pensar nisso há 15, 20 anos", destaca.  

Cavalcante lembra que "a lógica do bandido é a lógica do rato, gosta de lugares escuros, sujos, abandonados... quando o poder público apresenta obras de qualidade, não vai imperar a lei da criminalidade".

O palestrante salientou a importância da educação de qualidade e da cultura cidadã. "É comprovado cientificamente que quanto mais se estuda menor é possibilidade de a pessoa ir para o mundo do crime... É preciso ofertar escola pública de qualidade, 60% dos jovens no Brasil estão fora da escola. São os jovens que estão matando e estão morrendo. Precisamos buscar soluções para trazer esses jovens para a cidadania".

Ele assegura que - atualmente, em Recife - "a prioridade das prioridades" é a primeira infância. Manifestou o palestrante: "é comprovado por estudos, que se tiver um real para se investir que se invista na primeira infância... menino ou menina de 0 a 7 anos que vivem em lares com degradação familiar, têm uma grande tendência de ser delinquentes", ensina.

Para Cavalcanti é imprescindível mudar o destino das cidades brasileiras, "cidades desumanas, desiguais, individualistas, cidades partidas... de um lado, a periferia; do outro, a cidade formal". E possível, está aí o exemplo de Medellín para comprovar isto.    

 

 

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