Festa do Rei Jesus é cancelada após escândalos de assédio - Jornal Fato
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Festa do Rei Jesus é cancelada após escândalos de assédio

A comunidade Vida Nova, responsável pela organização da festa, teve que ser fechada


- Foto: Andre Fachetti

O cancelamento da tradicional Festa do Rei Jesus trouxe à tona graves acusações sobre o fundador da Comunidade Vida Nova, responsável pela organização do evento. Ex-membro da casa denunciou ao FATO casos de assédio sexual, traição e homossexualismo que teria levado ao fechamento do projeto.

Vida Nova era uma das que a Igreja Católica chama de "Novas Comunidades", onde pessoas passam a viver de forma comunitária, vocacionada e carismática. A comunidade era uma Associação Privada de Fiéis Leigos, que abrigava homens e mulheres, casados, solteiros e celibatários.

Os casos polêmicos envolvendo membros da comunidade, segundo fontes que não serão identificadas, são antigos, mas só foram descobertos há pouco tempo. "Há três semanas, um membro da casa do Vida Nova do Pará veio passar um tempo em Cachoeiro. Ele relatou que o fundador tentou beijá-lo, mas disse que não era dessas coisas e foi à cúria Diocesana fazer a denúncia", comentou uma fonte.

A partir desta denúncia, a Diocese pediu para que um dos padres fizesse investigação na comunidade e levantamento dos fatos. Durante acompanhamento do sacerdote, descobriu-se novas situações de assédio, casos extraconjugais e relação entre pessoas do mesmo sexo, atos não apoiados pela Igreja.

"Grande parte das pessoas que estava lá dentro não sabia desses casos, foi enganada, usada. Dedicaram a vida inteira à comunidade e depois ficaram perdidas com essas denúncias. O Vida Nova fechou, e muitas dessas pessoas, que dependiam da comunidade, não sabem o que fazer, elas entenderam que foram manipuladas pelo fundador".

O fundador e o homem apontado como seu braço direito são acusados de terem um caso e foram afastados da comunidade. Os membros entregaram as cruzes (sinal de vida em comunidade) e uma carta de desligamento.

A Diocese, na última semana, exigiu que fosse retirado da casa o Santíssimo Sacramento, o Corpo de Cristo, pois com os escândalos, a Igreja não pode permitir que ele fique na casa. Com isso, a comunidade fechou de vez as portas e as chaves foram entregues à cúria.

No entanto, segundo as denúncias, o fundador e seu braço direito conseguiram reaver a chave, após a Diocese ter feito um inventário de tudo o que havia na casa, e pegaram objetos que estavam trancadas lá, como computadores e outras coisas.

A maior revolta dos ex-membros é terem deixado tantas coisas para trás, para viver uma vida que não era a delas. "As pessoas deixaram de casar, porque o fundador dizia ser a voz de Deus, e disse para que elas não se casassem, não estudassem, trabalhassem etc. Um dos amigos de lá lamentou dizendo que envelheceu na comunidade e, no final, não teve uma família por acreditar que sua escolha era a correta", lamenta.

A comunidade, após o fechamento, foi desligada da Diocese de Cachoeiro, e passou a ser uma associação, sem qualquer vínculo com a Igreja Católica, mas sem forças, alguns membros que ainda insistiam ficar, não podiam continuar com a Festa do Rei Jesus.

Fica o questionamento dos ex-membros: "As pessoas que por lá viveram tanto tempo, sendo enganadas, vão para onde? Conseguirão emprego aonde? Elas estão devastadas tentando recomeçar. A verdade precisa aparecer, para que o fundador pare de mentir. Ele fala que está sendo perseguido pela Igreja, mas não é bem assim, foi ele que enganou e manipulou a vida de muitas pessoas, não a Igreja".

A reportagem conseguiu falar com a Diocese, no entanto, o administrador diocesano, padre Walter Luiz Barbiere Milaneze Altoé, está com compromissos fora de Cachoeiro e só poderá falar sobre o caso após seu retorno.

Também tentou contato com os dois homens que dirigiam a comunidade. Entretanto, o número atribuído ao fundador já não recebe ligações. Quanto ao outro, foi enviada mensagem de áudio por WhatsApp, que foi visualizada, mas não respondida até o fechamento desta matéria.

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